Na segunda-feira, no Sambódromo, Luciana Gimenez pronunciou a frase do século:
“Bolsonaro quem inventou fui eu, né?”
Sim, foi ela. O que confirmou a fama de agourento de Mick Jagger. Sua passagem pelo Brasil, em 1998, quando ele conheceu a apresentadora de TV, desencadeou uma série de reveses que acabaram conduzindo Jair Bolsonaro da poltrona branca do Superpop diretamente para o Palácio do Planalto. Só falta um controle remoto para mudar de canal.
Estupidamente, eu nunca havia assistido às entrevistas de Jair Bolsonaro a Luciana Gimenez. Resolvi dedicar-me a elas na Quarta-Feira de Cinzas. As chamadas do programa refletem o seu modo de governar: “Bolsonaro frente a frente com o beijo gay”, “Bolsonaro encara transex que está bombando na web”, “Felipeh Campos se revolta com atitude do deputado Jair Bolsonaro”. O gabinete presidencial tornou-se um anexo do estúdio da RedeTV.
Luciana Gimenez costumava convidar Agnaldo Timóteo para participar das entrevistas com Jair Bolsonaro. É uma pena que ele não possa ser nomeado para a Casa Civil. Num dos programas, o letreiro dizia: “Jair Bolsonaro acredita que uns tapas na criança ajudam a corrigir socialmente”. A tela, naquele instante, mostrava a imagem de Eduardo Bolsonaro, sentado na platéia.
Superpop não foi o único programa a que assisti nos últimos dias. Desde que Veneza entrou em quarentena por causa do novo coronavírus, tenho passado horas e horas na frente da TV. A rigor, estou em quarentena há cinco anos. O Antagonista confinou-me em casa. O site é igual ao novo coronavírus – só que mais letal. O que mudou com a atual quarentena é que eu, moribundo, agora estou enclausurado em casa com o resto de meus familiares.
Além de ver velhos programas de TV, eu vejo também o que ocorre fora da janela. Neste momento, os peões estão desmontado a plataforma que havia sido construída no hotel Gritti, do outro lado do canal, para as filmagens de Missão Impossível, que foram suspensas devido ao novo coronavírus. Em 1576, durante a epidemia de peste, Veneza perdeu Tiziano. Agora, com o novo coronavírus, a cidade perdeu Tom Cruise. É sinal dos tempos. Os tempos do Superpop.
Crusoé