Tenho – assim mesmo na primeira pessoa do singular – a impressão de que o presidente Jair Bolsonaro se diverte com o barulho de cada polêmica que cria.
Digo cria porque não creio em displicência do ex-capitão em situações como a do vídeo (convocando para protestos de 15 de março) compartilhado privadamente com aliados.
E julgo, de novo na primeira pessoa do singular, ter razões e fatos para comprovar.
Pior fez Jair quando ele próprio publicou nas suas redes sociais vídeo sendo metaforicamente cercado pelo STF, Congresso e outras “hienas”.
Depois, fez o que voltou a fazer agora nesse polêmico convite contra o Congresso: eximiu-se de qualquer ataque às instituições.
Bolsonaro se alimenta do caos e adora conviver com o abismo. Ele vai dando a pauta do debate, por mais tolo que seja. E quase sempre consegue arrancar a reação desejada nos adversários.
Coronavírus no ar, dólar nas alturas, suspeitas em torno da morte do miliciano Adriano da Nóbrega e as mentes mais influentes do Brasil debatendo se o ato do presidente vale ou não um impeachment.
É óbvio que não se deve aceitar candidamente o radicalismo de quem pede o fechamento de instituições nacionais. E o que tem de novidade nisso? Em toda manifestação da turba bolsonarista tem flores para a ditadura militar, exaltação ao Exército e outras besteiras mais.
Eleito nessa esteira, Bolsonaro sempre dá satisfação e ração a esta cavalaria sem causa, sem bandeira digna do nome e que, de tão carente de valores democráticos, procura um mito messiânico e a ele empresta autoridade imaginária para tudo. Nesse aspecto, pouco difere do seu principal polo opositor, que condena ditaduras daqui e aplaude as de alhures. Aliás, eles se retroalimentam.
Contra estes arreganhos (felizmente) minoritários, o desprezo é remédio muito mais eficaz. Responder com a mesma zoada é se fazer útil à onda desinteligente que se pretende impor no grito. O barulho é aliado da histeria. A razoabilidade é inimiga.