Só faltava um morto. Agora não falta mais.
Desde que o Coaf revelou que duas familiares de Adriano da Nóbrega, chefe do Escritório do Crime, estavam lotadas no gabinete de Flávio Bolsonaro, sua morte era uma certeza para mim. Assim como a morte do Coaf.
Algum tempo atrás, cheguei a publicar uma nota antevendo o destino sangrento do pistoleiro de aluguel. Um ou dois militantes bolsonaristas espernearam em nosso site. Eles estavam errados. Eu estava certo.
Apesar da hostilidade de Jair Bolsonaro, é preciso dizer que, no último ano, a imprensa acertou mais do que errou. A Crusoé, por exemplo, antecipou todas as etapas do bizarro encolhimento de Onyx Lorenzoni. Na quarta-feira, quando o ministro foi degolado publicamente, a revista lembrou sua reportagem sobre o assunto e comentou nas redes sociais: “JORNALISMO NÃO É FOFOCA”. Assim mesmo: aos berros.
Jair Bolsonaro berra contra a imprensa todos os dias. Deveríamos homenageá-lo com uma estátua. Nunca houve um presidente que superestimasse tanto o poder do jornalismo. A maior prova disso é que, ao mesmo tempo que ele profetiza a morte da imprensa, seus cupinchas articulam-se para montar uma rede de jornalismo chapa-branca, inaugurando sites e distribuindo propaganda estatal para emissoras de TV amigas. Vai dar certo? Não vai.
É meio humilhante ter de reconhecer que os ataques de Jair Bolsonaro podem até render-lhe uns votos. Mas é um fato: o jornalismo é impopular e temos de lidar com isso. Na última semana, a escória do bolsonarismo, insuflada por Eduardo Bolsonaro, atacou covardemente uma repórter da Folha de S. Paulo, acusando-a de ser uma prostituta. Não é o caso de repetir minha opinião sobre a reportagem que motivou esses ataques nojentos, porque não é disso que se trata. E não é o caso de desresponsabilizar a imprensa, como se ela fosse inimputável. Trata-se apenas de repetir, mais uma vez, que os ataques ao jornalismo só podem ser respondidos com mais jornalismo, investigando tudo — inclusive os jornalistas e o jornalismo. Eventualmente, AOS BERROS.
Crusoé