Nas raras entrevistas que concede, o deputado federal Damião Feliciano (PDT) costuma ser ameno e pouco afeito à polêmicas. É aquela figura descontraída que todo mundo conhece.
Por isso, surpreendeu o tom agudo da entrevista que concedeu a mim e a Wallison Bezerra, ontem, no Hora H, programa levado ao ar pela Rádio POP FM 89,3, em João Pessoa, e em rede (Rede Mais) para mais outras 13 emissoras nas principais cidades da Paraíba.
Tanto que forma e conteúdo ganharam rapidamente o noticiário estadual como rastilho de pólvora. Não poderia ser diferente. O que o pedetista disse textualmente sobre o inusitado pedido de duplo impeachment caiu como bomba na opinião pública e nos meios políticos.
Perguntado sobre a denúncia protocolada quarta-feira na Assembleia, Feliciano não usou meio termo. Acusou o movimento de trama, manobra e golpe orquestrado nos bastidores para tirar o caminho da hierarquia estadual o governador João Azevêdo e a vice-governadora Lígia Feliciano.
Criticou, no mérito, a peça que não especificou cabalmente um crime de responsabilidade dos dois denunciados, apontamento básico nesses casos, e foi além. Pela primeira vez, colocou um ingrediente novo e arrastou o presidente da Assembleia, Adriano Galdino, para o centro do debate.
Chamando atenção para a gravidade do episódio, porque, nas palavras de Damião, o maior e direto beneficiado na tramitação desse processo é justamente quem tem o poder legal da condução deste. É o dono da prerrogativa legislativa de arquivar ou levar às últimas consequências. No caso, a posse dele mesmo no comando do Palácio da Redenção em meio à instabilidade de proporção imprevisível.
Para bom entendedor meia palavra basta. Feliciano até foi hábil na retórica, mas não deixou margem para dúvidas quando tratou o pedido de duplo impeachment, inovação na jurisprudência, como tentação para o presidente da Assembleia legislar em causa própria. O que, para Damião, seria um “golpe” do tipo venezuelano. Botou no colo de Adriano a responsabilidade do que vier pela frente.