Irmãos Bolsonaro, façam como o príncipe Harry (por Leandro Narloch) – Heron Cid
Bastidores

Irmãos Bolsonaro, façam como o príncipe Harry (por Leandro Narloch)

26 de janeiro de 2020 às 13h00 Por Heron Cid
SAÍDA PELA DIREITA - Carlos, Eduardo e Flávio: clã negocia com urnas replicando o estilo e as ideias do pai (Antonio Milena/VEJA)

É um tanto louvável a decisão do príncipe Harry e sua mulher de se afastarem da realeza. No Canadá, poderão viver com as próprias pernas – “ter uma vida mais independente”, como disse a rainha Elizabeth. É bom que os filhos queiram sair da sombra da família e tentem viver por conta própria – nem que seja com uma ajudinha da mesada milionária do pai, o príncipe Charles.

Ganhar o seu próprio dinheiro, cuidar da própria vida sem depender do sobrenome: eis uma guinada que os filhos do presidente Bolsonaro também poderiam dar.

(O leitor deve ter reparado que coloco na mesma prateleira a família real britânica e a família Bolsonaro. Sim, eu sei que isso é tão esdrúxulo quanto nivelar Wimbledon a Osasco, Santorini a Maricá. Mas quem não tem Harry caça com Carlos: os Bolsonaro são hoje o mais próximo que temos de uma família privilegiada boa de notícia.)

Falando em Carlos, vejam o caso dele. Aos 17 anos, contrariou a mãe ao concorrer com ela a vereador do Rio de Janeiro – ele ganhou, ela abandonou as pretensões políticas. Desde então, Carlos, que tem no braço uma tatuagem do rosto do presidente, aproveita o sobrenome para se reeleger vereador. Fez um trabalho relevante administrando as redes sociais do pai, mas desde a vitória tem dado um pouco de problema.

Carlos brigou com o vice Mourão, bateu boca e teve que aceitar o corridão que levou de Rodrigo Maia. Passa o dia no Twitter comparando o presidente da Câmara ao Nhonho do Chaves e – logado na conta do Presidente da República – perguntando às vezes o que é “golden shower”.

Como Thaís Oyama conta no livro Tormenta, Carlos, quando contrariado pelo pai, some por alguns dias e ameaça “ir embora para nunca mais voltar”. Deixa o pai em apuros temendo “que o filho, usuário de medicamentos para estabilização de humor, faça uma besteira”. Não seria a hora de, em vez de fazer uma besteira, tomar coragem e seguir a vida fora da sombra paterna?

No caso de Flávio, é mais complicado se distanciar da corte. O senador está enrolado com o caso Queiroz – se decidir abandonar a política e se mudar, sei lá, para a Chapada Diamantina, perde o foro privilegiado e corre o risco de acabar em Bangu.

Eduardo Bolsonaro é outro que cresceu aproveitando os restos do banquete eleitoral. Mudou o domicílio eleitoral para São Paulo a fim de se candidatar a deputado sem tirar votos do pai no Rio. Protagonizou a tentativa patética de ser embaixador brasileiro em Washington – um equivalente ao filhinho do industrial que ganha um cargo de gerência sem ninguém conhecer seus méritos. É realmente necessário passar por esse constrangimento?

O fato de os filhos de Bolsonaro terem ganhado a vida explorando o sobrenome do pai não resulta que sejam obrigados a fazer isso para sempre. Talvez seja o caso dos irmãos acatarem algum daqueles imperativos hippies: “libertem-se!”, “permitam-se!”. Se até o príncipe Harry pode mudar, os Bolsonaro também podem.

Crusoé

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