Ninguém até agora havia conseguido uma razão justificável para a decisão de o ex-governador Ricardo Coutinho romper com atual governador João Azevêdo.
Essa resposta não existia até ontem.
A investigação do Gaeco e o relatório do desembargador Ricardo Vital ajudam a entender com clareza solar o que separou um do outro.
Pelas gravações feitas pelo operador Daniel Gomes, Coutinho havia costurado diretamente com o lobista uma mesada mensal para os anos seguintes ao seu governo. Isso a partir ainda de 2018.
Para tanto, a manutenção do contrato superfaturado com a Cruz Vermelha e a entrada do IPCEP no Hospital Metropolitano seriam a garantia dos repasses mensais de R$ 500 mil.
O contrato, como se sabe, foi interrompido por decisão do governador João Azevêdo com a intervenção no Hospital de Trauma.
O ‘acerto’ entre Daniel e Coutinho estaria, daquele momento em diante, prejudicado. Os pagamentos mensais, igualmente.
Mas o pior viria. Azevêdo não só interveio como retirou a Cruz Vermelha e a substituiu por outra organização social, a Acqua. Detalhe: por R$ 3 milhões mensais de economia.
A medida sutilmente estava dizendo a ouvidos e olhos mais atentos que os serviços poderiam ser feitos por outro valor bem menor. Retirando, claro, a margem do sobrepreço.
Foi a gota d’água, agravada pelo afastamento, um a um, de agentes políticos do governo citados ou denunciados no escândalo, todos ligados remanescentes da gestão anterior.
Estranhamente, mas hoje bem mais fácil de entender, nessa fase começaram a pipocar as primeiras críticas e enfrentamentos de Ricardo com o seu sucessor e a solidariedade do socialista aos “companheiros” demitidos. Hoje, quase todos presos.
Uma ferida que nada e nenhum intermediário foram capazes de cicatrizar. O buraco só aumentou até o recente anúncio formal do fim da aliança.
Para quem queria entender o inexplicável rompimento, com até direito a uma traumática intervenção no PSB, as páginas da denúncia do Gaeco responderam melhor do que qualquer análise política.