O ser humano possui mecanismos instintivos de defesa. Eles foram estudados por Sigmund Freud, o mais citado autor e teórico da Psicologia. Dos mais conhecidos são deslocamento, fantasia e negação.
Grosso modo falando e com a vênia da Ciência para eventuais imprecisões, a forma como reagiu parte da esquerda paraibana e até nacional horas depois da mais nova e estarrecedora fase da Operação Calvário consegue se enquadrar, ao mesmo tempo, nos três fenômenos psíquicos.
Apesar do conteúdo da investigação exposto em 206 páginas, com direito a gravações entre operador e acusado negociando propinas, houve quem preferisse deslocar o olhar para “a cobertura da imprensa” e “espetáculo sensacionalista” destinada aos integrantes do “campo popular”.
Fingem esquecer a forma como Eduardo Cunha, Michel Temer, Sérgio Cabral, Paulo Maluf foram cinematograficamente encarcerados. Até onde se sabe nenhum do dito universo progressista, mas todos parceiros dos “governos de coalizão”.
Nenhum pio ou linha sobre o conteúdo tenebroso das conversas, das revelações e das provas dos autos demonstrando como o dinheiro público paraibano foi obscenamente tratado. Espanto mesmo e indignação só quanto à “espetacularização” promovida pela Justiça e mídia. Aí sim tem “crime”. A coisa se inverte. Esse são os criminosos.
Na reação de alguns, o jeito foi invocar exercitar a teoria malufista e invocar os êxitos de gestão e resultados administrativos positivos do ex-governador Ricardo Coutinho. Como se uma coisa justificasse ou apagasse a outra.
Um típico mecanismo de fantasia. Daqueles em que o sujeito se nega a aceitar uma realidade e “troca o mundo que tem por aquele com o qual sonha”, como acentuam os especialistas.
Em outras palavras, é como se o sujeito teimasse e não aceitasse mentalmente que o que um dia acreditou, sonhou e lutou tenha se transformado num pesadelo.
Isso entre os de boa fé. Porque na maioria dos acometidos dessa ‘síndrome’ as motivações são menos nobres ou psíquicas. É questão de índole e caráter mesmo.
Os fatos? Que se danem os fatos. Eles são apenas detalhes. É uma ética curiosa. Como se o malfeito tivesse ideologia. Depende de quem comete. Revolta apenas contra os desvios dos outros.
É a ‘negação’ (terceiro fenômeno) cínica de princípios políticos e públicos. Para esse tipo, nem Freud explica.