O debate já está debatido. Debatido de batido mesmo. De tão cobrada, a necessária autocrítica do PT é quase assunto vencido. Mas, por tudo, ainda merece ser lembrada a ouvidos moucos.
O tema é indigesto para a maioria petista, partido que, apesar de orgânico e vivo, foi transformado quase em seita, depois dos traumas de 2014 para cá.
Há, contudo, raras e lúcidas exceções. A luz no fim do túnel e a moderação veio nesse fim de semana da boca do governador reeleito da Bahia.
Para Rui Costa, o PT precisa deixar a polarização e buscar pregar a pacificação do país, além de fazer um “ajuste fino” no seu discurso econômico.
O papel de Luiz Inácio Lula da Silva deveria ser o de conciliador de setores da sociedade que viveu quando governou, de 2003 a 2010.
Na cabeça dos radicais petistas, a fala de Rui é pedir demais. Afinal, Lula e o PT são “vítimas”. Da imprensa, do Ministério Público, do Judiciário, das elites, dos banqueiros e… Das urnas.
Vamos combinar. A tal autocrítica não é tarefa fácil para uma legenda que idolatra e deifica seus dirigentes condenados em uma, duas e até três instâncias.
É como se os fatos e os malfeitos não importassem. O que vale é o apreço às pessoas. O que elas fizeram ou fazem…Deixa pra lá.
Pulemos essa parte chata e manda aí um F5. Lula está livre, mas desde o impeachment e de sua prisão, o petismo paralisou no sentido de produzir novos debates e novas lideranças.
O discurso de Lula não vem sendo capaz de refletir positivamente para as eleições de 2020. Não se tem notícia de um candidato petista competitivo entre as capitais brasileiras. No Recife, Marília Arraes, vitimada em 2018, é exceção muito mais pelo seu carisma pessoal do que pelo DNA petista, que ela não tem.
Ainda que ouça, mesmo a contragosto, a advertência de Costa, o PT ainda tem que passar por outro pente fino: a sociedade brasileira vê no partido alguma autoridade para esse papel de conciliação e em Lula, depois de tudo, a autoridade de mediador?
Quanto mais o PT demora a enfrentar esse processo com lucidez e crítica política, mas o ‘não’ tende a crescer como resposta à essa pergunta.
O partido deveria ouvir mais o conselho do baiano. Tomara que Rui Costa não vire suspeito de inclinação ‘bolsonarista’, o termo mais imediato sacado pelo petismo para desqualificar e atacar todo e qualquer um que não seja cego político ou devoto do partido.