“Coitado do Flávio.”
Foi o que escreveu Eduardo Bolsonaro quando ironizei a direita flaviana, capitaneada pelos dois irmãos, por poupar Dias Toffoli, o presidente do STF que (1) segurou por quatro meses a investigação sobre Flávio pelo suposto rachid em seu ex-gabinete; e que (2) teria sido investigado na CPI da Lava Toga, boicotada por Flávio e Eduardo.
A investigação sobre o filho 01 de Jair Bolsonaro teve de ser liberada por Gilmar Mendes com base na decisão do plenário de derrubar a liminar estapafúrdia de Toffoli contra o compartilhamento de dados da UIF (ex-Coaf) e da Receita com o Ministério Público sem autorização da Justiça, em julgamento no qual o presidente do Supremo, conforme ia perdendo, foi alterando seu voto em javanês até se unir à maioria, votando contra si próprio, para poder redigir o acórdão e receber outros pedidos de liminar.
Em 20 de novembro, porém, apontei no Twitter: “A restrição de Toffoli ao compartilhamento de informações do Coaf com o Ministério Público é que ele seja feito apenas por sistema próprio, e não por e-mail, que (oh, coincidência!) é o meio que a defesa de Flávio Bolsonaro alega ter sido usado por uma procuradora ao pedir dados”.
Resultado: na sessão seguinte à derrubada da liminar, o ministro Alexandre de Moraes resgatou a tese de seu camarada Toffoli (que o designou, sem sorteio, relator do inquérito ilegal sobre supostas fake news) e defendeu que a obtenção de dados fiscais e bancários pelo MP junto à Receita e à UIF deve ser feita “unicamente por meio de comunicações formais”. “Em 99,9% dos casos, é assim que funciona”, disse Moraes. A tese foi aceita por outros nove ministros, o que deixou aberto ao menos um flanco para a defesa de Flávio explorar, fazendo dele o alegado 0,1.
Meses atrás, o senador já havia tratado de abrir outros flancos para aliviar investigados como ele, votando contra quatro dos 33 vetos impostos pelo pai na Lei de Abuso de Autoridade. No fim de novembro, Flávio se juntou mais uma vez aos petistas e demais políticos de rabo preso, votando pela derrubada de outro veto do pai e garantindo, assim, o direito de os próprios parlamentares aumentarem o fundo eleitoral para 2020, o que resultou na previsão de 3,8 bilhões de reais de gastos públicos com campanhas.
“Acabei dando um voto para derrubar esse veto, quando na verdade o voto deveria ter sido para manter o veto”, afirmou o senador em vídeo de 4 de dezembro, no qual alega que “não prestou atenção” na votação em que Câmara e Senado apreciaram os vetos à minirreforma eleitoral. “Agora já passou, não tem como voltar atrás.”
Em resumo: Flávio quer fazer os brasileiros acreditarem que cometeu um pequeno engano que vai custar 3,8 bilhões de reais aos pagadores de impostos; que era contra a CPI que investigaria Toffoli porque seria ruim para a recuperação da economia; que não sabia das movimentações bancárias atípicas de seu ex-assessor Fabrício Queiroz e das transferências de seus demais assessores para Queiroz; e que só votou contra quatro vetos do pai à Lei de Abuso de Autoridade para impedir abusos dos investigadores.
Coitado do Flávio.
Crusoé