Heraldo Nóbrega integrava o rol dos últimos remanescentes de uma geração inteira do jornalismo, romântica e boêmia.
Um dos traços de sua personalidade, a generosidade. Recém-egresso da UFPB e começando na profissão, fui acolhido por ele em gestos espontâneos. Antes, nos bancos de faculdade, lia no seu blog, um dos primeiros da Paraíba, seu texto refinado e carregado de bom humor e acidez.
Sempre tinha uma palavra de incentivo. Quando precisava corrigir algum deslize do principiante na profissão, o fazia com fidalguia e elegância. Nunca para diminuir. Sempre para contribuir.
Chamava-me de sobrinho. Na última vez que nos encontramos, um jantar na Casa do Bacalhau, um dos seus restaurantes prediletos, não abriu mão de um bom vinho para regar suas muitas histórias de bastidores.
Nesse dia, partilhou comigo uma delas. Assessor do então senador Ney Suassuna, fez uma pergunta direta que sintetizava bem seu estilo irônico e culto: “Senador, por que eu sou pobre e o senhor um milionário”?
A resposta do excêntrico Ney: “Tá vendo aquele carro? Pra você aquilo é uma Kombi velha. Pra mim, é uma oportunidade de negócio. Eu compro, reformo e vendo pelo dobro”, contou Heraldo, aos risos. Ria de si mesmo.
Por isso nesta manhã, é difícil compreender como a escuridão da depressão conseguiu apagar o brilho do seu sorriso frouxo, da sua alegria de existir. Filho de Patos, era do clã Nóbrega. Era um nobre. Até no nome.
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