Qualquer um no lugar de João Azevêdo (PSB), governador da Paraíba, já teria chutado o pau da barraca no meio do turbilhão de constrangimento que seu partido vem lhe impondo desde antes, durante e depois da inexplicável intervenção cartorial, um estupro político como faz tempo não se via por estas bandas nem em legendas de aluguel.
Imagine, por exemplo, quantos segundos o então governador Ricardo Coutinho conviveria com auxiliares que ousassem divergir dele, conceitual, partidária ou politicamente?
A postura comedida de Azevêdo por vezes é mal interpretada. Na política, aliados e parachoques no meio desse bombardeio até reclamavam da postergação de decisões inadiáveis, como a remoção de secretários alinhados com a ala que vem desafiando a autoridade de João, quando não boicotando e desqualificado o chefe do Executivo.
Era comum nas rodas políticas figuras do meio tratarem a paciência de João diante de ataques, indiretas e provocações como demonstração de hesitação. Outros, mais radicais, até apostavam em jogo de cena ou o pior: uma suposta relação de receio ou dependência do antecessor, o condutor da ofensiva contra seu sucessor.
Nenhuma coisa e nem outras.
A demissão de Fábio Maia, executivo de Planejamento, e de Yuri Simpson, presidente da PBprev, depois de muito sal nessa tumultuada relação no Jardim Girassol, além de extremamente simbólicas, só atesta que João, definitivamente, não é uma figura previsível.
Reagir à tentativas de intimidação ou humilhação com a mesma moeda não está no seu script. Sabe engolir sapos tanto quanto comer papa quente. Pelas beiradas, como mandam os mais velhos, pra não queimar a língua e nem ter indigestão.
Hoje, ele admitiu o contexto político das exonerações, mas pontuou a necessidade administrativa do Estado contar com secretários “mais presentes”. Uma forma indireta de dizer que indicados do ex-governador já não estão mais produzindo para o governo, dado o clima de distanciamento teórico e prático deles da gestão.
João reage à intempérie com um movimento sóbrio, vacinado de açodamento, que neutraliza, pouco a pouco, renovadas e públicas tentativas de desestabilização. Sem grito e sem cara feia. Um estilo diferente de dizer quem manda.