Desde estagiária na TV Correio, onde fomos colegas de redação, Larissa Pereira já dava sinais dos caminhos ascendentes que, mais tarde, trilharia. Conciliava, à época, o estágio na produção da emissora com a apresentação de um programa institucional de uma faculdade particular de João Pessoa, oportunidade primeira de treinamento do que viria a ser sua expertise na comunicação: o vídeo.
Inquieta, dedicada, atenta e pé no chão. No exercício já profissional na TV Cabo Branco e depois na Globo Nordeste (Recife), casas que aprimoraram seu talento, ela foi se agigantando. O tempo passou e essas qualidades só foram maximizadas, com uma rara pós-graduação em humildade.
Ao contemplar o que o Brasil só viu ontem na mais importante vitrine do telejornalismo do país, foi inevitável não olhar dez anos para trás e alcançar no túnel aquela menina cujos olhos claros, por natureza, brilhavam sua essência de batalhadora e obstinada.
Dispensável registrar a segurança, a elegância e a performance no ar. De tudo o que ela transmitiu ao Brasil, o mais sagrado, para nós, seus conterrâneos, ficou registrado na sua autêntica, legítima e indisfarçável ‘paraibanidade’.
Larissa falou como paraibana que é, preservando e homenageando nosso característico sotaque, tantas vezes maquiado na televisão, inclusive local, por vergonha, recomendação ou involuntário autopreconceito.
Como se nossa fala fosse menor do que sotaques alheios, de outras regiões do Brasil, como se nosso jeito de se comunicar fosse algo para esconder e não para identificar.
Na Paraíba e em boa parte do Nordeste, no cotidiano pronuncia-se “di”, não “dchi”. Larissa levou à bancada do Jornal Nacional nosso “ti”, assim mesmo bem acentuado e com todo o orgulho expresso nas faces. E nem a tentação da aparição em rede nacional lhe seduziu a traí-lo por um artificial “tchi”.
Como na vida, soube ser ontem um exemplar ‘arretado’ dessa espécie paraibana, nordestina, que não ‘arreda’ dos sonhos, que não se ‘avexa’ por qualquer coisa e que responde provocação com “sangue nos olhos” e a “gota serena”.
Sua ‘invocada’ palavra final no Jornal Nacional foi um resgate à nossa autoestima e disse ao Brasil o que todo “paraíba” gostaria de bradar aos quatro cantos: “Aqui, eu estou certa de que sou mais do que a jornalista Larissa Pereira. Aqui, eu sou ‘Paraíba’ e tenho orgulho disso”.
Com um “oxente” em rede nacional, deu um “nó cego” no preconceito. No de fora e no de dentro.
Para quem pensa diminuir um nordestino, agora está mais do que advertido: Paraíba não é mesmo só um estado geográfico. É um estado de identidade. E esse recado foi dado, e bem dado, por uma “paraíba” inteira, “sim senhor”!