Sempre que pode, o ex-governador Ricardo Coutinho posta nas redes sociais uma menção às obras inauguradas pelo seu sucessor, João Azevêdo (PSB). É o método político para rememorar sua gestão. De quebra, arrefecer o mérito de quem entregou. Mesmo que seja dez meses depois.
Ontem, foi a vez da PB-082, de Pilar a Itabaiana. Coutinho pincelou: “Dezoito meses após o início da rodovia…”. Delimitou um marco temporal. Um cálculo rápido, oito meses do governo anterior e dez meses do atual.
João fez hoje o que tem feito nessa crise entre PSB e governo. Responde, reage, retruca. Mas, nesse novo capítulo, com um grau a mais no tom.
“Será que as obras não eram para ser concluídas? Será que as obras, grande parte, que eu planejei, vou usar ‘eu’ pela primeira vez na minha fala. Por formação, tenho a compreensão que governo é sempre feito por muito mãos. Somos nós que fazemos. Mas muitas dessas obras, evidentemente, têm a minha mão no conceito do projeto. E a grande questão é que desde a campanha eu disse que todas as obras iniciadas seriam concluídas. Estou fazendo isso. Obra não tem dono. É uma obra pública e precisa ser concluída”, afirmou.
Disse mais:
“O Teatro Santa Catarina custou R$ 5 milhões. Em 2018 foi pago R$ 250 mil. Quem pagou R$ 4.750 milhões foi esse governo que está aqui. Essa disputa é muito pequena. Não vou descer à essa disputa. Isso não é importante para mim. Estou terminando obras que foram consideradas inauguradas em 31 de dezembro, que não estavam sequer prontas. Não precisamos descer a esse detalhe”, registrou
No escopo, uma revelação.
Para coroar o governo, o então governador inaugurou obras antes mesmo de sua conclusão. Procedimento pouco republicano, convenhamos, para usar uma palavra em voga. A palavra do atual governador tem a autoridade de testemunha, secretário que estava lá, que concebeu e tocou os projetos que fortaleceram Ricardo e deram plataforma para o próprio João conquistar um mandato.
Quando assumiu a gestão, em 2011, Ricardo inaugurou o Trauma de Campina Grande, iniciado por Cássio e praticamente concluso por Maranhão. Deu sequência, com méritos, ao programa de estradas, cujo convênio foi assinado por Cássio e licitado por Maranhão.
Como diz Míriam Leitão, quem colhe é o dono da colheita. E a colheita foi de Ricardo. Ponto. Mas ele parece esquecer isso.
Como antes, Azevêdo demonstra lembrar o papel do ex. Já Coutinho, depois de passada eleição, parece também esquecer com gestos desnecessários o que mesmo saiu de sua boca sobre João, considerado – nas palavras de Ricardo – mais competente e preparado do que ele próprio.
O que fez Ricardo mudar de pensamento em tão pouco tempo?