(BRASÍLIA) – A despeito das crises e das trapalhadas que o próprio governo cria, o presidente Jair Bolsonaro conta com um fator ao seu favor: com todas as críticas, o Congresso tem sido responsável e republicano no trato das questões de interesse nacional. Como é o caso da Reforma da Previdência, aprovada em caráter final, ontem, no Senado.
Essa é a mais ampla e profunda alteração nas regras da Previdência do Brasil. Como todo o parto, dói, mas precisava nascer um novo filho. Não o perfeito, mas o necessário para as adequações e correção de distorções que levaram o regime a praticamente falir e colocar em risco as atuais aposentadorias e as futuras gerações.
O Brasil ainda era um dos poucos países no mundo que não adotava a idade mínima para aposentadoria. Um monstrengo que faz muita gente, especialmente servidor público, alguns dos quais a vida inteira licenciados para outras atividades, sair da ‘ativa’ na casa dos 50 anos de idade, em fase totalmente produtiva, considerando a média de vida brasileira.
A reforma atinge mais os trabalhadores da iniciativa privada, a maioria do sistema. Algumas corporações, organizadas no serviço público, se mobilizaram e ainda conseguiram manter certas vantagens.
No geral, foi a reforma possível. Afora, a oposição pela oposição, movida pela necessidade de manter um discurso, ou um palanque para alguns, o bom senso e os números recomendavam as mudanças. Tanto que os votos apareceram na Câmara e no Senado pelo senso de responsabilidade dos parlamentares.
Esse legado entra na conta do tumultuado governo de Jair Messias Bolsonaro. Em menos de um ano de governo, ele conseguiu o que seus antecessores não fizeram em sucessivos mandatos, apesar de ensaios e tentativas mal-sucedidas. Com uma marca que vale registro: sem negociar cargos e nem ratear estatais para aliados em troca de votos. Pode até parecer pouco, mas é muito para o padrão da nossa cultura política.