Semana passada no Recife (PE), por onde passei, o assunto nas rodas de conversa era a venda do Diário de Pernambuco, transferido das mãos dos irmãos Alexandre e Maurício Rands para um advogado pouco conhecido em terras pernambucanas chamado Carlos Frederico Vital.
Curiosos questionam por que, apesar das debilidades, da demonstrada inviabilidade econômica e de renúncias sequenciais, alguém ainda nutre disposição de manter o jornal e emissoras de rádio do grupo funcionando?
Por isso, a suspeita no ar em torno do real interesse e dos verdadeiros novos donos do conglomerado. Falou-se muito, nos bastidores, de uma suposta participação do empresário Luciano Bivar, presidente nacional do PSL, que teria ligações com Frederico. Esse último nega.
A questão central não é essa. Ela orbita em torno do negócio comunicação que nunca foi tão assombrado pelas interrogações e dúvidas como agora. Notadamente, a comunicação mais tradicional.
Os relatos de empresários do ramo são sempre de preocupação e de necessidade de reinvenção. Não se sabe, ao certo, para onde a comunicação está indo. Certeza, somente uma: os hábitos do público e o negócio mudaram muito nos últimos dez anos. Caminho sem volta.
O desalentado comunicado dos Rands sobre o repasse do Diário de Pernambuco oferta uma ideia do cenário: “Infelizmente, as diversas fragilidades financeiras de uma empresa com o histórico existente nos impediram de prosperar da forma que gostaríamos e que esses meios de comunicação merecem”.
A Paraíba convive com a realidade do fechamento de quase todos os jornais impressos. O Norte, Diário da Borborema e Jornal da Paraíba. Resistem A União, só de pé pelos impostos dos cidadãos paraibanos, e o Correio da Paraíba, com redação cada vez mais enxuta e sobrevivente pela resistência pessoal do empresário Roberto Cavalcanti.
A crise não se limita aos impressos. Consolidadas televisões de João Pessoa precisaram ser redimensionadas. Recentemente, a TV Cabo Branco redesenhou sua hierarquia para se adequar a esses inquietantes tempos. Existem outros exemplares de providências semelhantes no mercado.
Os sites e portais de notícias experimentam uma dicotomia: são influenciadores, têm audiência prática e aferível, pautam o noticiário tradicional, mas se deparam com pedras no caminho.
O próprio amadorismo e timidez do setor na relação com o anunciante privado são algumas delas somadas a uma certa indisposição – pra não chamar de má vontade – da maioria das agências de publicidade, estas, historicamente mais comprometidas com os grupos de comunicação, destinatários das maiores fatias de distribuição de mídia.
Há desinteresse deliberado na pulverização de campanhas para um universo maior de veículos, para economizar mais trabalho e demanda administrativa. A opção cômoda e conservadora termina sendo concentrar. Menos técnica e mais pragmática, por sinal.
Sites, portais e blogs invariavelmente são lembrados nas crises ou momentos esporádicos e estratégicos, o que precisa provocar uma necessária autocrítica. Assim, rendem-se ao desconforto de se limitar à clientela institucional mais do que todos concorrentes nesse mercado generalizadamente refém da publicidade institucional. Uma anomalia que reflete a fragilidade da nossa economia estadual.
Em resumo, o ambiente de dúvidas não poupa ninguém. Nem ‘grandes’, nem ‘pequenos. É um momento que exige, de um lado, conexão e convergência multiplataformas e cada vez mais profissionalismo. Do outro, convencimento do anunciante – com dados e números reais – da viabilidade de manter anúncios e apostas no segmento da comunicação como braço e aliado no sucesso.
E o mais importante e mais difícil, em terras de estiadas convergências e fartura de vaidades e ciúmes, a unidade.