Quando decidiu implodir a direção estadual, por meio do arrebatamento vertical, a ala interventora do PSB sabia, certamente, dos efeitos colaterais. A menos que, por subestimação ou soberba, achasse que todos na legenda se agachariam ao que se configurou na prática como golpe.
Entre os efeitos, os que já estão sendo percebidos. A desidratação lenta, porém constante dos quadros. O setor divergente vai se retirando num processo evidente de estratégia de hemorragia, o que deve perdurar até o gran finale, a iminente saída do governador João Azevedo de uma sigla que o desconsiderou solene e arrogantemente ao optar pela dissolução da direção eleita.
Até lá, o fogo consome o partido internamente e a tendência de desfiliação de quadros significativos é uma realidade. O que isso provocará? Um automático redimensionamento da legenda comandada, agora oficialmente com papel passado e tudo, pelo ex-governador Ricardo Coutinho.
Se não estancar a sangria, o que é o mais provável, o grupo interventor corre o risco de gerenciar uma massa falida. Em termos, porque contará entre seus filiados com uma liderança estadual do porte de Ricardo. Mas convivendo com a anomalia de corpo com uma notória cabeça e desprovido de cauda consistente.
A realidade próxima obrigará o ricardismo a recosturar um partido construído ao longo dos últimos 15 anos. Um penoso processo de recomposição nos municípios e nas bases que tendem a seguir com o governador e o governo. Pelo pragmatismo da política paraibana e também pela antipatia da truculência de um processo feito na base do desespero e do vale tudo.
Ainda pesa outro fator. A pedagogia da desconfiança criada pelo novo comando da sigla. Quem dos dirigentes municipais ou lideranças sentirá confiança na autonomia dos respectivos diretórios municipais? Quem garantirá que, diante de eventual divergência, as direções nos municípios não podem ser igualmente dissolvidas numa canetada?
Perante a demolição partidária, o ricardismo precisará reerguer a legenda tijolo a tijolo, reconstruir alicerces, reconquistar confiança e levantar a casa de novo. Com uma adversidade a mais: na oposição e sem a força da máquina, argamassa que contribuiu muito para edificar a altura a que o PSB chegou ao longo dos últimos anos no exercício do poder.
É uma tarefa de nova costura. Com muitos fios a menos na agulha.