Junto com Olivan Pereira, sepultado neste domingo, se vai parte de um legado e uma tradição do rádio cajazeirense, uma das mais férteis escolas da radiofonia paraibana. Big Boy, seu prefixo artístico, era remanescente de uma geração de ouro do éter. A que dedicava a vida a esse encantador veículo pela paixão, não pelos louros que ele rende aos seus mais destacados.
O traço mais marcante desse seleto clube é a arte do dinamismo polivalente, dom cada vez mais escasso. Olivan fazia radiojornalismo policial com a mesma maestria que explodia a voz à beira dos gramados, ou o mesmo desembaraço e ginga nas atrações musicais, onde fluía no público com desenvoltura e empatia singular.
De tudo o que fez, e fez muito, a parte policial do Boca Quente, da Difusora AM, foi seu maior cartão de apresentação. Ninguém, até hoje, conseguiu repetir a sincronia da dupla com Wilson Furtado, a sinergia perfeita, a combinação adequada, a oscilação de tons de vozes que se completavam como queijo e goiabada.
Quem teve o privilégio de ouvir, feito eu, não esquecerá dos ecos ao final de cada manchete estridente, do cuidado na apuração dos fatos, de como se levava a sério o ofício da transmissão de cada notícia, da produção à reportagem, da edição à narração.
Um trabalho do verdadeiro e apaixonante rádio que era coroado pela plástica de um Gilvan de Andrade. Inspiração para novas gerações, modelo para quem ainda faz do rádio um portal para o encantamento, exemplo pelo respeito e devoção a esse tão grande sacerdócio.
Uma página do rádio da Paraíba cala com o emudecimento de Olivan Pereira. Mas seus agudos e médios não silenciam na memória de quem um dia lhe ouviu irradiar, com perfil singular e a plenos pulmões, a fase áurea do seu Boca Quente.