Em agosto de 1992, Fernando Collor já estava com um pé fora do Planalto. A cada dia, apareciam novas provas de corrupção no governo. Nas ruas, crescia o movimento a favor do impeachment.
Acuado, Collor resolveu transformar uma solenidade oficial em comício. Ao anunciar benesses para taxistas, ele apelou ao patriotismo e pediu ao povo que saísse de verde e amarelo no domingo. “Vamos mostrar as cores que balançam o nosso coração”, bradou, entre juras de amor à “nossa pátria querida”. Deu tudo errado. Os brasileiros saíram de preto, em sinal de repúdio ao presidente.
Depois de 27 anos, Jair Bolsonaro repetiu Collor. Ontem ele incentivou a população a sair de verde e amarelo no 7 de setembro. “Eu lembro que lá atrás um presidente falou isso e se deu mal. Mas não é o nosso caso”, apressou-se. Ele reforçou o discurso com chavões como “Aqui é o Brasil” e “A Amazônia é nossa”.
Bolsonaro está com a popularidade em queda, mas ainda não é tão rejeitado quanto Collor em 1992. Mesmo assim, resolveu reciclar o populismo em verde e amarelo de quem dizia ter “aquilo roxo”. A exemplo do antecessor, o presidente usa o patriotismo como arma de propaganda. Ao se apropriar dos símbolos nacionais, tenta vender a ideia de que seus críticos seriam inimigos do país.
Ontem o secretário de Comunicação Social, Fabio Wajngarten, apresentou uma campanha publicitária para exaltar “as cores da nossa bandeira”. Alegou que estaríamos vivendo “tempos difíceis”, de “ataques à nossa soberania e à imagem do nosso país”. Com essa desculpa, o governo vai gastar mais dinheiro público para tentar recauchutar a imagem do chefe dele.
Wajngarten anunciou a criação da “Semana do Brasil”, uma espécie de black friday bolsonarista. Numa cerimônia esvaziada, ele disse que a ideia vai aquecer a economia, mas não apresentou nenhum número que justificasse a previsão. Também faltou explicar se o consumidor terá que cantar o hino com a mão no peito, à moda do presidente, para conseguir um desconto no balcão.