O terraplanista ambiental não acredita no aquecimento global. Em maio, ele foi a Roma e precisou tirar o sobretudo do fundo da mala. Assim percebeu que os estudos científicos estavam todos errados. Eram parte de uma conspiração politicamente correta para enganá-lo.
Para o terraplanista ambiental, as mudanças climáticas não passam de uma falácia. Foram inventadas por ideólogos do marxismo cultural, que dominam as Nações Unidas, as ONGs e a fundação do George Soros.
Nem as imagens das queimadas convenceram o terraplanista ambiental de que a Amazônia está em risco. Ele viu no Facebook que as fotos são manipuladas e que os satélites do Inpe foram programados pela Venezuela. Na verdade, as árvores nunca estiveram tão verdes e saudáveis. Quem insiste em dizer o contrário só pode ter sido doutrinado pelo método Paulo Freire.
O terraplanista ambiental está esperando a próxima passeata para vestir sua camisa amarela e bradar contra a indústria das demarcações. Ele leu no grupo da família que os índios não falam a nossa língua, mas são bilionários e controlam 14% do nosso território. Estão atrapalhando o país, assim como os quilombolas, os fiscais do Ibama e o pessoal do Bolsa Família.
O fim do Fundo Amazônia não comoveu o terraplanista ambiental. Ele já sabe que a Noruega mata baleias, que o Macron é de esquerda (também, com aquela mulher…) e que a Merkel é uma comunista infiltrada na direita alemã. Os europeus são assim mesmo: se fingem de bonzinhos, mas só querem tomar o nosso nióbio.
O terraplanista ambiental é esperto. Não entra na onda de militontos que nunca plantaram um pé de alface e agora querem defender a Amazônia. Quem cai nessa conversa deve acreditar em qualquer coisa: que a Terra é redonda, que o homem pisou na Lua, que o presidente anda mentindo para a população. É gente subversiva, antipatriótica, que só sabe torcer contra o Brasil.
O Globo