Como disse o presidente dos Estados Unidos John Kennedy, “governar é escolher prioridades”. Quem acompanhar o presidente Bolsonaro através de suas redes sociais perceberá imediatamente dois tipos de prioridades de seus seguidores: há os que apoiam seu governo especialmente pelo combate à corrupção, e os que são contra tudo o que está aí, agora focados nas queimadas da Amazônia, com críticas a Macron e outros líderes europeus. Como antes priorizavam o porte de armas. Ou cadeirinhas de bebê. Ou o fim dos radares nas estradas.
Os a favor da Lava-Jato estão preocupados com a relação conflituosa entre o presidente Bolsonaro e o ministro da Justiça, Sérgio Moro. São vários os recados que recebe advertindo que Moro tem que ser apoiado, e que a Lava Jato precisa continuar.
Ontem, uma pesquisa do CNT/MDA mostrou não apenas que a Lava-Jato continua tendo o apoio da maioria da população, como 52% não querem que Moro saia do governo. O pacote anti-crime de Moro, que está sendo desidratado no Congresso, tem mais de 70% de apoio na população.
Ao contrário, a popularidade de Bolsonaro despencou, havendo quase 40% que consideram seu governo ruim ou péssimo. Também o comportamento pessoal do presidente Bolsonaro é desaprovado por 53%.
Bolsonaro não se cansa de dizer que venceu a eleição presidencial para mudar tudo, e que está à frente de uma nova era. Muitas vezes em tom acafajestado, os bolsonaristas festejam tudo que pareça ser contra o establishment, comungando com seu líder a idéia de que é preciso destruir, mais que construir.
Esse estilo acafajestado está presente nos twits da família Bolsonaro, e agrada a certos seguidores, que se utilizam do mesmo linguajar. Foi um desses bolsominions que publicou um comentário de mau gosto que circulou pela internet: a razão do “ciúme”, ou da “inveja” de Macron seria a beleza de Michele Bolsonaro, comparada com a de Brigitte Macron.
Uma cafajestada compartilhada, entre gargalhadas digitais (kkkk), pelo presidente da República, que ainda inseriu um comentário: “Não humilha”. Agindo como Bolsonaro, e não como presidente da República do Brasil, cometeu mais um erro, depois de ter tido uma vitória no G7, quando a maioria dos países ficou contra boicotar o acordo União Européia/Mercosul como queria o presidente da França.
Mas com o comentário absurdo sobre a mulher de Macron, Bolsonaro não conseguiu capitalizar para si a moderação dos líderes europeus. Um vídeo da reunião do G7 em Biarritz, na França, revelou a chanceler da Alemanha Angela Merkel comentando com seus pares que telefonaria a Bolsonaro para mostrar que não havia uma campanha contra ele.
No que foi seguida pelo primeiro-ministro da Inglaterra, Boris Johnson, que comentou: “Isso é importante”. O próprio Macron concordou com a iniciativa, embora sugerisse que o recado fosse transmitido ao chefe de gabinete de Bolsonaro.
O presidente tem razão ao dizer que Emmanuel Macron está protegendo os agricultores de seu país, arranjando pretexto para não fechar o acordo com o Mercosul, mas defender os interesses brasileiros não é ofender o presidente de outro país.
Bolsonaro precisa aprender a tratar assuntos de Estado de forma não pessoal, pois o Estado brasileiro tem interesses que independem da opinião do presidente. A opinião de que Macron é um “idiota oportunista”, postada pelo ministro da Educação Abraham Weintraub, parece mais uma vergonhosa sabujice do que a opinião de uma autoridade.
A bravata do ministro do Meio-Ambiente, também. Ricardo Salles, disse que o dinheiro que a União Européia e outros países mandarem para ajudar no combate às queimadas da Amazônia será controlado e orientado pelo governo brasileiro, sem aceitar exigências ou condicionantes.
Incapaz de conseguir um acordo de boa convivência com países europeus, o governo brasileiro anuncia que vai negociar com os Estados Unidos uma nova política ambiental. Parecemos agora aquele garoto que chama o irmão mais velho para bater nos que fazem bulling com ele.