G1: “Fumaça de queimada em RO e AM já é visível de satélite da Nasa”
A chamada dá a entender que as queimadas deste ano foram tão intensas que foram vistas pelos satélites. Na verdade, a Nasa captura imagens das queimadas de inverno da Amazônia há décadas. Compara ano a ano o início da temporada de fogo e o tamanho das manchas de fumaça. Em 2019, segundo o relatório que motivou a reportagem do G1, “as observações de satélite indicaram que o total de queimadas na Amazônia foi levemente abaixo na comparação com os últimos 15 anos. Apesar da atividade ter sido acima da média no Amazonas e em menor grau em Rondônia, ficou abaixo da média no Mato Grosso e no Pará”.
Não entendi o motivo, mas o G1 simplesmente omitiu essa informação central do curto relatório da Nasa. Preferiu reproduzir dados do INPE segundo os quais as queimadas aumentaram 190% em Rondônia.
A Nasa publicou novas imagens e relatórios nesta quarta e quinta-feira. “O tempo vai dizer se este ano quebrou os recordes ou esteve dentro dos limites”, diz um deles.
Diversos jornais: “Ibama passa a avisar em site onde serão realizadas ações de fiscalização”.
Em maio, o Ibama publicou em seu site que fiscais atuariam no sudoeste do Pará para combater focos de desmatamento. Não especificou o dia nem as cidades (de uma região maior que Portugal) onde as ações ocorreriam. Foi um caso único – nenhuma linha informava que esse procedimento se tornaria um padrão. Apesar disso, grandes jornais informaram que o Ibama passaria a partir de então a avisar os locais das batidas dos fiscais.
Forbes, entre outros: “Amazônia está queimando e a fumaça transformou o dia em noite em São Paulo”.
A escuridão repentina que passou por São Paulo esta semana foi obviamente causada por uma frente fria. Também contribuiu para ela a fumaça vinda de incêndios da Bolívia, não da Amazônia. A onda de queimadas deste ano não é exclusividade da Amazônia – também está acontecendo na Bolívia, Paraguai e Paraná. Como o repórter Duda Teixeira afirmou na Crusoé, “a Bolívia está registrando o maior desastre ambiental de sua história, com cerca de 500 mil hectares consumidos pelo fogo”. É uma área equivalente à desmatada na Amazônia nos últimos doze meses. Só no Parque Nacional de Ilha Grande, entre o Paraná e o Mato Grosso do Sul, o fogo levou nos últimos dias 45 mil hectares.
Jornal Nacional: “Em cem anos, Europa ficou mais verde mesmo após duas guerras mundiais”.
Nenhum erro na reportagem do JN de 19 de agosto, mas faltou esclarecer um detalhe: o que permitiu a Europa se reflorestar e proteger espécies foi a riqueza. A maior produtividade, causa número 0001 da prosperidade, torna as pessoas menos dependentes da natureza.
Gente pobre, por outro lado, não costuma se preocupar com sustentabilidade: se você está há três dias sem comer, vai abater sem culpa um animal em extinção. Se estiver de barriga cheia, se dará ao luxo de ligar para a dor dos animais.
Em todo mundo, animais em extinção de países ricos estão se recuperando – é o caso de lobos, ursos, alces e veados. Já os de países pobres da África, elefantes, girafas e leões seguem ameaçados. No Brasil, é difícil acreditar que população amazônica vai se preocupar com a floresta antes de deixar a miséria.
Diversos jornais: “Para cuidar do meio ambiente, Bolsonaro sugere fazer cocô dia sim, dia não”.
Aqui não há nenhuma interpretação enviesada. O presidente realmente disse essa bobagem.
Crusoé