Foram 67 dias da eleição à posse. Tempo que o empresário e ex-senador Roberto Cavalcanti teve para suas reflexões resumidas no discurso em que firmou compromisso com seus pares na Academia Paraibana de Letras, para o qual foi eleito com resultado elástico frente aos seus dois concorrentes (Germano Romero e Ney Suassuna).
A solenidade, na noite da última sexta-feira (23), foi carregada de emoção. Na antesala da colonial edificação que abriga a história da APL, onde esperava para entrar no recinto solene, Cavalcanti guardava um semblante de expectativa e certo nervosismo.
Parecia o menino que andava com Renê Ribeiro, o pai, em aventuras para conhecer quilombos pernambucanos, objeto de pesquisas do médico e também antropólogo. Parecia tão curioso quanto a criança que, inadvertidamente, comeu jaca com caroço e tudo.
Ao adentrar o salão, a face era de profundo júbilo. Ao falar, as palavras eram mergulhadas em emoção. Debulhou-se em lágrimas duas vezes, embargou a voz e forçou a dicção para persistir no pronunciamento diante de uma plateia entre comovida e entusiasmada.
Passeou na própria história, mas foi na nostalgia dos pais onde mais foi vencido pela consternação, ao lembrar de um casal que se conheceu ainda na faculdade, que fazia tudo junto e que, por destino, também morreu junto, numa trágico acidente automobilístico nas ruas do Recife (PE).
Depois do diploma e da medalha, um Roberto lépido entre convidados, graciosamente pleno no novo degrau de sua trajetória de economista, empresário, político e articulador de pensamentos e crônicas do cotidiano real, no veículo que décadas antes ousou comprar, projetar e consolidar.
Por um preço que custou até o sangue.