Marizópolis – Um estado cujo produto de sua riqueza está 50% concentrado em duas cidades, num universo de 223 municípios, precisa admitir: tem algo errado nisso.
É o caso da nossa Paraíba, onde a metade do nosso PIB reside em João Pessoa e Campina Grande. A outra metade sobra para 221 cidades.
A anomalia revela muito sobre o olhar com que, ao longo da história, nossa economia foi formatada. Um olhar superado e carente de reciclagem e atualização.
Em seu livro A Paraíba que Podemos Ser, o economista e ex-reitor da Universidade Federal da Paraíba, Rômulo Polari, já alertava para essa distorção em sua “crítica à ação contra o atraso”.
Em entrevista ao autor do Blog, na MaisTV, canal de vídeo do Portal MaisPB, o engenheiro civil, planejador e estudioso de cidades inteligentes, André Agra, defendeu a mudança da lógica de concentração do desenvolvimento das riquezas paraibanas.
Faz-se necessário acrescentar um tópico aos dois pensadores: é hora de a Paraíba rever inclusive sua política de interiorização do desenvolvimento.
Porque quase sempre esse esforço de investidores e poder público reforça outra deformação; a concentração de investimentos e equipamentos públicos em territórios onde o desenvolvimento já chegou.
O inchaço e repetição de fomento nas cidades polos criam uma nova deturpação. As cidades da órbita permanecem como bolsões periféricos sem qualquer perspectiva de exploração dos seus potenciais e arranjos produtivos locais.
E o ciclo vicioso perdura. Os pequenos municípios completamente dependentes das suas cidades-mães e inchando-as com demandas que mal são respondidas aos próprios moradores delas.
Desconcentrar e gerar novas oportunidades à base dessa pirâmide são tarefas para ontem. Conscientizar as cidades já desenvolvidas e encaminhadas a partilhar, convergir e interagir, em vez de competir e concorrer é um ambiente ideal e absolutamente urgente.
O que acontecerá amanhã, às 9h, aqui em Marizópolis, minha cidade natal, em audiência pública da Câmara de Municipal e das Frentes Parlamentares do Desenvolvimento Econômico, do Semiárido e do Cooperativismo da Assembleia Legislativa da Paraíba, é um primeiro passo.
Prefeitos, vereadores, deputados, especialistas, autoridades, dirigentes de instituições de ensino superior de Sousa, Cajazeiras, São João do Rio do Peixe, Nazarezinho e São José da Lagoa Tapada sentam à mesma mesa em Marizópolis, um ponto de gravidade entre esses municípios, para dialogar sobre desenvolvimento integrado e novas oportunidades consorciadas.
Um debate que, apesar de décadas de atraso, não chega tarde. Sempre há tempo para o futuro.