É redundante dizer que a Paraíba tem participação especial em momentos decisivos da história do Brasil. A morte de João Pessoa, que eclodiu o Golpe de 1930 e a longa ditadura de Getúlio Vargas, é só um de muitos exemplos.
A constatação serve, também, para explicitar uma contradição histórica: a terceira capital mais antiga do país não tem um museu para abrigar o acervo material e icônico que conta sua odisseia nesses 434 anos (tempo de fundação do Estado)
Tudo bem que João Pessoa é um sítio histórico a céu aberto com suas igrejas, casarios e monumentos. Mas, ainda assim, há uma grande lacuna a ser preenchida.
Não falo apenas sob a perspectiva do turista.
Se um pessoense mesmo quiser acessar o documento que transformou o nome de Parahyba para João Pessoa, onde ele encontra? Se quiser ler as cartas originais de Anayde Beiriz e João Dantas? Os decretos imperiais, atos relevantes do Legislativo, fotografias de momentos épicos, ofícios do nosso único conterrâneo a presidir o Brasil, Epitácio Pessoa?
Onde encontrar páginas de arquivos de jornais retratando situações e movimentos que aqui se passaram antes mesmo da República? A quem recorrer para ver imagens que desenham a evolução da capital e o processo de colonização do interior, as batalhas dos índios tabajaras, a invasão holandesa…
No Frente a Frente, da TV Arapuan, ontem, convidados de diferentes funções e olhares pactuaram sobre a necessidade de se vencer essa demanda: o cronista Carlos Pereira, aos oitenta anos, uma página viva da memória da cidade, a jornalista e coordenadora do Projeto Cidades Criativas da Unesco, Marianne Goes, e o especialista em cidades digitais, André Agra.
Agra, inclusive, defende que o Museu Parahyba seja concebido com o viés digital para atrair as novas gerações plugadas nas novas tecnologias. Seria um diferencial e uma conexão de passado, presente e futuro. Um equipamento que possa, inclusive, retratar nosso patrimônio imaterial (cultura popular e gastronomia).
Esse vazio grita e deve mover e engajar entidades e instituições preocupadas com a preservação da nossa memória. Governo do Estado, Prefeitura, Associação Paraibana de Imprensa, Academia Paraibana de Letras, Iphaep, UFPB, UEPB e tantas outras podem ocupar o protagonismo desse debate necessário, oportuno e inadiável.
Um povo que não conhece a sua própria história também perde o sentido de identidade e de pertencimento. Um museu, por si só, é um ato de reverência à história e seus personagens. A ausência dele é, naturalmente, o contrário.
As próximas gerações não merecem esperar mais 434 anos.