Por mais sucesso e popularidade que um debatedor, um movimento intelectual, uma corrente ideológica ou um grupo político alcancem com a histeria do adversário, poucos de seus seguidores entendem que nenhum deles precisa ser salvo ou protegido do histérico, uma vez que eles estão vencendo o debate, sem precisar calar ninguém.
O aspecto cultural mais relevante da derrota eleitoral em 2018 da esquerda então dominante no Brasil foi que ela se deu com suas vozes em plena atividade nos meios de comunicação, várias das quais hoje se empenham em publicar mensagens roubadas e descontextualizadas de integrantes da Lava Jato – mesmo após a prisão do hacker Walter Delgatti Neto e de seus cúmplices – para pressionar o STF a soltar Lula e denegrir a imagem do ministro mais popular do governo Bolsonaro, Sergio Moro.
A esquerda perdeu falando, esperneando, apelando, contaminando notícias de jornais e portais com o ativismo político antes restrito a seus colunistas.
É humilhante perder assim. É ainda mais humilhante ter perdido para um deputado direitista que usava auxílio-moradia “para comer gente”, empregava secretária parlamentar em Vila Histórica de Mambucaba, tinha um histórico de votos a favor de privilégios para categorias profissionais de sua base eleitoral — e que, como presidente, ajudou a afagar policiais na reforma da Previdência; deixou o filho Carlos usar suas redes sociais para atacar integrantes do próprio governo; elogiou o presidente do STF, Dias Toffoli, por blindar seu filho investigado Flávio; indicou o filho Eduardo para uma embaixada em Washington; levou parentes em aeronave da FAB para o casamento dele sem prévia e convincente explicação; chamou de “idiota” uma pergunta legítima sobre o caso; e afetou saber como morreu o pai – dado como “desaparecido” durante o regime militar – do presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, ex-candidato a vereador pelo PT.
Por mais destemperos e imoralidades em que Bolsonaro incorra, porém, a esquerda e os analistas que afetam moderação, prestando contas aos esquerdistas de seu meio, não conseguem arregimentar apoio e audiência para além da tribo vermelha e de suas mesmas celebridades: Chico Buarque, Wagner Moura, Marcelo D2, Paulo Betti, Camila Pitanga e Fernanda Abreu, presentes no ato em defesa de Glenn Greenwald, no Rio.
O motivo é óbvio: a parcela radical defende a soltura de criminosos condenados, a parcela afetada mostra mais indignação contra as bolsonarices que contra os criminosos.
Quem está vencendo o debate público no Brasil, neste momento, não é a esquerda, nem Bolsonaro. São aqueles que distinguem legalidade e moralidade, imoralidade e ilegalidade, dando a cada uma o seu devido peso, sem tentar fazer uma parecer outra para pintar de mártir seus aliados, ou para pedir a prisão ou a expulsão do país de adversários não investigados. São aqueles que polarizam, sim, contra bandidos, mas repudiam a eventual estupidez do presidente, sem ignorar os méritos de seu governo.
Contra essas vozes, os histéricos de qualquer naipe só passam vergonha.
Que bom que eles continuam falando.
Crusoé