Folha: "Eu não desço nível", diz João sobre polêmica com Bolsonaro – Heron Cid
Bastidores

Folha: “Eu não desço nível”, diz João sobre polêmica com Bolsonaro

28 de julho de 2019 às 08h09 Por Heron Cid
O governador da Paraíba, João Azevêdo (PSB) - Francisco França/SECOM
João Valadares

JOÃO PESSOA

Discreto, com um perfil técnico e comedido em declarações públicas, o governador da Paraíba, João Azevêdo (PSB), foi puxado para o meio do ringue presidencial após Jair Bolsonaro (PSL) tentar consertar a frase em que chamou todos os governadores do Nordeste de “paraíbas”.

Depois da reação negativa ao teor da conversa que vazou durante encontro com correspondentes internacionais há uma semana, Bolsonaro afirmou, no dia seguinte, que tinha feito uma crítica específica ao governador paraibano e ao do Maranhão, Flávio Dino (PC do B), por viverem o “esculhambando e se apropriando de obras federais”.

“É uma atitude inaceitável para um presidente da República. Eu não desço a esse nível. Essa é a grande questão. Eu não desço a esse nível de disputa”, diz Azevêdo.

O pessebista lembra que, na Paraíba, não há nenhuma obra federal iniciada neste ano. “Não há nem convênio. Zero. Todas as obras que estão aqui em andamento são dos governos anteriores”, afirma.

O governador, boa parte dos paraibanos e até a oposição local foram pegos de surpresa com o remendo do presidente. Ao contrário de seu padrinho, o ex-governador Ricardo Coutinho (PSB), que acumula inimigos e é afeito a declarações fortes contra adversários, Azevêdo não é considerado um político de enfrentamento.

Ele estava vistoriando uma obra no interior quando Dino o telefonou perguntando, em tom de brincadeira, quem era o pior governador dos dois. Azevêdo não entendeu a pergunta. Ainda não sabia do declaração do presidente.

“A Paraíba entrou nessa discussão muito mais numa tentativa de consertar a frase absurda dita de uma forma pejorativa”, declara.

Mesmo antes de o presidente o apontar como inimigo público, Azevêdo menciona que, em quase sete meses de gestão, já foi retaliado diretamente pelo governo federal em duas ocasiões.

O primeiro episódio envolve a implantação de um VLT (veículo leve sobre trilhos) em Campina Grande, no interior do estado, cujo prefeito, Romero Rodrigues (PSDB), é aliado do presidente.

Em janeiro, o governador havia se reunido com o ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, para solicitar a liberação de uma faixa de um terreno da União para implantação do VLT. A obra seria tocada com recursos do governo paraibano.

O prefeito de Campina Grande foi até Bolsonaro e conseguiu que o presidente gravasse um vídeo afirmando que a intervenção seria feita pela prefeitura. A reunião que o governador teria com o ministro para finalizar as tratativas do projeto, no dia 17 de julho, foi suspensa sem explicação, diz.

O outro caso de retaliação citado pelo governador envolve a liberação de recursos, na ordem de R$ 60 milhões, para execução de dragagem no porto de Cabedelo.

A intervenção seria tocada pelo governo federal, e o ministro chegou a confirmar que haveria a licitação. Investidores arremataram em leilão três áreas internas do porto, no valor de R$ 100 milhões.

“Os investidores acreditaram naquela informação. Já havia os recursos disponibilizados. Agora, fui informado de que não é mais prioridade do governo federal”, lamenta o governador.

Logo depois do episódio em que Azevêdo e Dino são citados, Bolsonaro publicou, em suas redes sociais, vídeo em que um apresentador de um noticiário local afirma que, diferentemente de Dilma Rousseff (PT), o presidente Bolsonaro deu aval para empréstimo de US$ 50 milhões (R$ 189 milhões) do Banco Mundial.

“Fizemos o dever de casa. Ter aval do governo federal para um empréstimo nosso, isso não é favor da União. Temos rating B e, por isso, estamos aptos a recebê-lo”, explica o governador.