Calvário: Gaeco tem como meta recuperar R$ 200 milhões – Heron Cid
Bastidores

Calvário: Gaeco tem como meta recuperar R$ 200 milhões

27 de julho de 2019 às 09h15 Por Heron Cid
Gaeco já conseguiu reaver R$ 5 milhões de organização criminosa dirigida por Daniel Gomes da Silva

R$ 200 milhões. A alta cifra é o que a força-tarefa da Operação Calvário pretende recuperar no curso das investigação que apura desvios de recursos em contratos da Cruz Vermelha Brasil (Filial Rio Grande do Sul) no Rio de Janeiro e na Paraíba. Foi a estimativa revelada ao Blog pelo promotor Octávio Paulo Neto, coordenador do Grupo de Operações Especiais Contra o Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público da Paraíba.

Na sua terceira fase, a Calvário já recuperou R$ 5 milhões de pessoas físicas acusadas de desvios. Por enquanto, o Gaeco não divulga os nomes e os valores individuais, o que se pretende fazer apenas “quando for possível e seguro”, informou Octávio.

Ontem, o MP protocolou a terceira denúncia à Justiça baseada na Operação Calvário, deflagrada em dezembro de 2018, que investiga uma organização criminosa responsável por desvio de recursos públicos. O Gaeco/MPPB denunciou os servidores públicos, Maria Laura Caldas de Almeida Carneiro e Gilberto Carneiro da Gama, pelos crimes de peculato e lavagem de dinheiro.

Segundo o Gaeco, os recursos estão à disposição da Justiça e devem retornar aos cofres públicos em tempo oportuno. A ação, pela qual o Ministério Público busca a responsabilização penal dos dois investigados, foi protocolada na 5ª Vara Criminal de João Pessoa. A investigação aponta que Maria Laura recebeu remuneração “sem a efetiva prestação do serviço no cargo de assessora especial na Procuradoria-Geral do Estado da Paraíba, com locupletamento aproximado de R$ 112.166,66, durante o período de julho de 2016 a abril de 2019”. De acordo com a investigação, “o seu não comparecimento ao trabalho só foi possível por meio da conduta omissiva imprópria” do então procurador-geral do Estado, o segundo denunciado, para que ficasse à disposição dos interesses da Orcrim.

O Gaeco apurou que a denunciada também recebeu propina paga à Orcrim e ocultou sua origem ilícita, por meio da aquisição de patrimônio próprio em seu nome e de terceiros, a exemplo de um um sítio no assentamento Nego Fuba, no município de Santa Terezinha, gado e outros; de uma casa situada na Praia do Amor, no município do Conde; de quatro terrenos no loteamento Fazenda Nova, em Santa Terezinha, e de um veículo tipo caminhoneta. Para o Gaeco ficou claro que  Maria Laura  desempenhava a função relativa à execução financeira das entregas e recebimentos monetários do esquema criminoso.

Os crimes – Diante dos fatos, o Ministério Público da Paraíba requereu a instalação do devido processo penal-constitucional, contra os investigados para que ambos sejam condenados por apropriação indevida e desvio de recursos públicos (art. 312, caput, c/c art. 29, ambos do Código Penal), crime de peculato. Ainda de acordo com a denúncia, “os dois denunciados também estão envolvidos com uma organização criminosa que atua na Paraíba há, pelo menos, onze anos, com atuação destacada no governo estadual”. Outras condutas consideradas criminosas ainda estão sob investigação e deverão ser tratadas em denúncias posteriores, após o encerramento das diligências ministeriais.

Em relação especificamente à Maria Laura, também lhe foi imputado o crime de lavagem de dinheiro (1ª, §4 da Lei nº 9.613/18, modificada pela lei nº 12.683/12). Foi requerida a decretação da perda de cargo, emprego, função pública ou mandato eletivo (92, inciso I, alíneas “a” e “b”, do Código Penal) e a fixação do valor mínimo para reparação dos danos materiais causados pelas infrações, considerando os prejuízos causados ao erário, no total de R$ 448 mil. A denúncia é assinada pelos promotores do Gaeco.

A ‘Calvário’ – A Operação Calvário foi desencadeada no dia 14 de dezembro de 2018 para investigar núcleos de uma organização criminosa, gerida por Daniel Gomes da Silva, que se valeu da Cruz Vermelha Brasil – filial do Rio Grande do Sul (CVB/RS) e do Ipcep como instrumentos para a operacionalização de um esquema de propina no Estado da Paraíba. A organização seria responsável por desvio de recursos públicos, corrupção, lavagem de dinheiro e peculato, através de contratos firmados junto a unidades de saúde do Estado, que chegaram a R$ 1,1 bilhão. A Orcrim possuía atuação em outras unidades da federação, e exemplo do Rio de Janeiro. Até agora, foram realizadas três fases e a investigação segue em andamento.

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