Duzentos dias e uma obsessão (por Bernardo Mello Franco) – Heron Cid
Bastidores

Duzentos dias e uma obsessão (por Bernardo Mello Franco)

20 de julho de 2019 às 18h00 Por Heron Cid
Jorge William | Agência O Globo

Jair Bolsonaro é um político que defende a família. A começar pela própria. Apesar da chuva de críticas, o presidente está decidido a transformar o filho em embaixador nos Estados Unidos. Foi o que ele repetiu ontem, em solenidade no Planalto.

O motivo da cerimônia era comemorar os 200 dias do governo. O roteiro previa um balanço da gestão, mas Bolsonaro ocupou boa parte do discurso com o Zero Três. “Quem é pai, quem é mãe, vocês querem um filho melhor do que vocês. Eu quero um filho melhor do que eu”, argumentou. Foi a senha para o início de uma longa defesa do herdeiro.

O presidente repetiu os predicados que, segundo ele, habilitariam Eduardo Bolsonaro ao cargo mais importante do Itamaraty no exterior. “Ele é uma pessoa bastante comunicativa”, disse. “Fez intercâmbio. Ficou seis meses nos Estados Unidos”, emendou.

“Imagine se o Macri tivesse um filho embaixador aqui. Uma ligação para mim, eu atenderia agora ou pediria para o ajudante de ordens marcar uma data futura? Eu atenderia agora!”, garantiu.

O patriarca acrescentou uma nova linha ao breve currículo do filho. Além de fritar hambúrgueres no frio do Maine, ele também teria atuado como entregador de pizza. “Ele se aproximou depois da família do presidente norte-americano”, contou, referindo-se a Donald Trump. “A amizade que ele e sua família têm pelo meu filho não tem preço”, derramou-se.

O presidente ainda apresentou um plano B. Se não emplacar como embaixador, o Zero Três pode ser promovido a ministro das Relações Exteriores, numa dança de cadeiras com Ernesto Araújo. “Eu poderia chamar ele e dizer: ‘Ernesto, muito obrigado, eu vou te indicar embaixador nos Estados Unidos e o meu filho vai ser ministro’”, disse.

“Poderiam até dizer que ele não tem competência para ser embaixador, mas vai comandar quase 200 embaixadores pelo mundo”, prosseguiu Bolsonaro. O chanceler viajou para a África, o que o poupou de presenciar a nova humilhação pública.

A indicação de Eduardo ainda precisa ser aprovada no Senado. Se depender do presidente da Casa, não deve enfrentar muita resistência. Em pleno recesso, Davi Alcolumbre foi ao Planalto para a festa governista. “É uma data importante para Vossa Excelência e para um governo que constrói, que busca todos os dias acertar”, exaltou, depois de trocar sorrisos e abraços com Bolsonaro.

Sem corar, o senador definiu sua presença no palácio como um “gesto de humildade e de grandeza”. Parece que a subserviência ganhou outros nomes.

O Globo

Comentários