Tratava-se de uma reação ao livro State of a Union, de Jerry Oppenheimer, no qual o autor afirmava que Hillary Clinton chamara de “judeu bastardo” o gerente judeu da campanha fracassada de 1974 do marido, Bill, ao Congresso dos Estados Unidos.
“Desejo defender Hillary Clinton contra a acusação de antissemitismo. Eu faço isso como um judeu praticante e um republicano”, escreveu Dennis.
“Como revelou a biografia de Harry Truman – de David McCullough –, um dos amigos mais corajosos que judeus e negros americanos já tiveram na Casa Branca frequentemente usava ‘kike’ e ‘nigger’ em privado. Ele até usou por escrito essas palavras (pejorativas em relação a judeus e negros): em uma carta enviada de Nova York para casa, Truman descreveu a cidade como ‘kiketown’. Isso foi lamentável? Sim. Importante? Não. Definidor do homem? Absolutamente não.”
Para Dennis, que criticou a “tentação totalitária” e o “sensacionalismo da imprensa”, “é altamente enganador investigar os comentários privados em busca de evidências de antissemitismo, racismo, intolerância e sexismo”.
“Pode muito bem importar para Deus o que as pessoas dizem privadamente. Mas o que deve importar para nós é o que as pessoas dizem em público e como as pessoas agem – seja em público ou em privado.”
Exatamente 19 anos depois, em 18 de julho de 2019, a Folha, parceira do militante americano Glenn Greenwald na publicação de mensagens roubadas à Lava Jato, noticiou: “Mensagens apontam que Moro interferiu em negociação de delações”.
Na matéria, não há qualquer mensagem atribuída a Sergio Moro; apenas a suposta discussão entre os procuradores Deltan Dallagnol e Carlos Fernando Lima, em fevereiro de 2015, sobre consultar ou não o então juiz a respeito das penas a serem propostas a delatores da construtora Camargo Corrêa.
“Podemos até fazer fora do que ele colocou (quer que todos tenham pena de prisão de um ano), mas tem que falar com ele sob pena de ele dizer que ignoramos o que ele disse”, teria afirmado Deltan, que naturalmente buscava a homologação do acordo e, para isso, convencer o colega a fazer o que julgava necessário.
Ou seja: o parêntese da suposta mensagem de um terceiro (obtida por aparente violação criminosa de aplicativo de celular) sobre a alegada posição do então juiz, que sempre defendeu o cumprimento de pena de delatores (ainda antes, obviamente, do caso específico da Camargo Corrêa), bastou para a ilação da Folha sobre sua interferência precoce em delações relativas ao maior esquema de corrupção da história do país.
Embora o atual ministro da Justiça tenha defendido o “dever legal de não homologar ou de exigir mudanças em acordos de colaboração excessivamente generosos com criminosos” – como o da PGR com a JBS –, Glenn agravou tanto a tentação totalitária e o sensacionalismo da imprensa no Brasil que ainda deverá durar muito “a idiotice moral de julgar e rotular as pessoas por comentários privados dispersos”, alheios e roubados.
A grandeza moral de Dennis Prager em defender uma adversária ideológica de conclusões negativas forçadas está a anos-luz de distância do Intercept e seus parceiros.
A velha imprensa brasileira só se abre aos piores exemplos americanos.
Crusoé