Jair Bolsonaro não perde uma chance de cortejar a bancada da Bíblia. Ontem o presidente começou o dia num culto evangélico no Congresso. Em seguida, festejou o 42º aniversário da Igreja Universal, do bispo e empresário Edir Macedo.
No primeiro compromisso, o capitão ensaiou um discurso de pastor. “A paz de Cristo”, iniciou. “Amém!”, respondeu a plateia. “Vocês são mais que amigos, são irmãos”, continuou o orador.
O presidente voltou a descrever sua vitória como uma missão divina. Em seguida, repetiu a cantilena do país abençoado com terras férteis e “povo maravilhoso”. “O que que nos falta?”, perguntou. “Falta a fé. A vontade de vencer”, ele mesmo respondeu.
A pregação animou os deputados, mas eles queriam ouvir mais. “Poderei indicar dois ministros para o Supremo Tribunal Federal. Um deles será terrivelmente evangélico”, prometeu Bolsonaro. O auditório explodiu em aplausos e gritos de “Glória!”, como nos cultos transmitidos pela TV.
Em governos passados, a bancada evangélica trocava votos por verbas, ministérios e isenções fiscais. Na gestão atual, a turma passou a sonhar mais alto. Quer ascender ao olimpo do Judiciário.
As igrejas já deixaram claro o que pretendem: neutralizar a atuação liberal do Supremo. Nos últimos tempos, a Corte tem protegido minorias ameaçadas pela ofensiva conservadora. Em junho, equiparou a homofobia ao crime de racismo.
O presidente se irritou com a decisão, que classificou como “completamente equivocada”. “Se tem um evangélico lá, pedia vista e sentava em cima”, disse. Não podia ser mais transparente sobre a missão do ministro que vai escolher.
Não há qualquer problema na nomeação de um ou mais evangélicos para o Supremo. Hoje o tribunal tem juízes católicos e judeus. A questão é que nenhum deles chegou lá por delegação religiosa.
Bolsonaro quer atropelar a laicidade do Estado para dar mais poder aos pastores. Deus acima de todos e as igrejas acima da Constituição.