Reza um velho dito que Congresso forte corresponde a presidente da República fraco. Nele parece basear-se Jair Bolsonaro quando reclama do excesso de ativismo do Parlamento, que estaria por essa via subtraindo-lhe poderes. Pode ser que assim seja, mas pode ser que não seja assim que venha a ser mais adiante na cena eleitoral, de olho na qual atuam partidos e políticos.
Tudo depende da perspectiva. Olhando hoje, o panorama mostra-se bastante desfavorável ao presidente: Legislativo atuando em faixa própria, postulantes à sua sucessão mexendo-se desde já e todos pertencentes ao campo que o elegeu em 2018, popularidade em queda inédita para um governante que normalmente ainda estaria vivenciando os tradicionais seis meses de boa vontade do país, clima de conflitos, em sua maioria produzidos no Palácio do Planalto, economia empacada, desemprego alto, desacertos na equipe, o surgimento de um problema a cada dia a ponto de obscurecer o ótimo momento do acordo Mercosul-União Europeia, e por aí vão as agruras de Bolsonaro na primeira metade do primeiro ano de mandato.
Olhando adiante, porém, é possível projetar um cenário diferente daquele em que transitam as piores perspectivas, que no momento parecem as mais plausíveis. Obviamente, uma virada da chave do infortúnio depende de a economia deslanchar. Mas tal melhora está sujeita, sobretudo, ao andamento dos trabalhos no ambiente político.
E aqui vamos deixar de lado o mantra da boa articulação entre Congresso e Executivo, matéria vencida já que Bolsonaro não está minimamente interessado em ter uma base parlamentar ampla e firme como se cobra dele. A ferramenta do presidente é a tensão, e com ela pode acomodar uma convivência nesses termos. Outra hipótese é que a sucessão de impasses resulte em instabilidade, nefasta para negócios políticos e econômicos.
Ainda que as aparências digam o contrário, para Bolsonaro o melhor é acomodar-se no trono
Por incongruente que pareça, voluntária ou involuntariamente Bolsonaro sinaliza disposição de contrariar o dito citado no início do texto e se valer de um Congresso forte a fim de se fortalecer, e não de se enfraquecer. Explico: se a agenda autônoma do Congresso a partir da reforma da Previdência render bons resultados, a tendência é que ele capitalize eleitoralmente os benefícios do desatamento de vários nós que impedem o bom funcionamento do Estado e, com isso, recupere popularidade e confiança.
Não seria mais lógico que deputados e senadores faturassem o sucesso? Seria, em tese, mas na prática a eleição majoritária faz do Congresso um ente disperso. As atenções se concentram na Presidência. Para o bem e para o mal.
Dando tudo certo ou as coisas saindo irremediavelmente erradas, tanto o débito quanto o crédito caem na conta dele. Seu modo temerário de governar pode ser relevado ou potencializado. Portanto, ainda que as aparências informem o contrário, para Jair Bolsonaro o melhor é acomodar-se no trono de inspiração inglesa e torcer para que o Parlamento obtenha êxitos, a fim de lhe proporcionar a colheita de bons resultados.
Publicado em VEJA de 10 de julho de 2019, edição nº 2642