Manter Lula na cadeia está dando mais trabalho do que mandar Lula para a cadeia. Mas ele continua lá, 444 dias depois de ser preso. 445. 446.
Há um pessoalzinho torto que lamenta o encarceramento de Lula, apesar de reconhecer seus crimes. Eu sou o contrário: eu festejo. E festejo todos os dias. Lula na cadeia representa a maior conquista da democracia brasileira. É uma espécie de rito de passagem, uma prova de maturidade institucional. E isso se renova a cada derrota acachapante que ele sofre, desde 2015: nos tribunais, nas ruas, nas urnas.
A última derrota do chefe da ORCRIM – nesta semana, no STF – não foi acachapante, foi por um triz. Ou por um Celso de Mello. Ao mesmo tempo, foi uma das mais memoráveis, porque ocorreu em campo minado – a Segunda Turma de Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski – e em meio a um bombardeio sangrento contra Sergio Moro e a Lava Jato, desencadeado por tropas mercenárias, que contaram com o apoio entusiasmado de quase todo o Congresso Nacional e de quase toda a imprensa.
Pelas contas do STJ, Lula deve ser transferido para o regime semiaberto em agosto, antes de cumprir um sexto de sua pena. É preciso impedir, porém, que isso resulte no aniquilamento da Lava Jato, como pretendem os criminosos que rapinaram o telefone celular de Deltan Dallagnol. O retorno da impunidade é o único caminho que resta a Lula. Porque, se seus processos forem adiante, ele será preso novamente. Manter Lula na cadeia está dando mais trabalho do que mandar Lula para a cadeia. Mas encarcerá-lo pela segunda vez será duas vezes mais complicado. E terá de ser festejado em dobro.
Crusoé