Jair Bolsonaro fez mais uma reforma ministerial. Aos poucos, um método se revela. Na superfície, tudo parece um movimento de seis por meia dúzia, ajustes finos numa administração no rumo certo. Na Secretaria de Governo, foi demitido um general e entrou um quatro estrelas. Na Secretaria-Geral, foi ejetado do cargo um militar do Exército para ingressar um PM da reserva.
O conversê palaciano é que se busca melhorar aqui e ali a performance política do governo. O perfil dos novos escolhidos, porém, não deve ser medido pelo tom de suas fardas. Isso não importa mais.
Era conversa de início de governo, quando se prometia uma máquina guiada por critérios técnicos. Bolsonaro agora busca apenas gente à sua imagem e semelhança para cargos-chave no Planalto. Outras demissões no entorno presidencial devem acontecer.
Em menos de seis meses, peças foram retiradas não porque fossem focos de insubordinação ou um bando de quinta-coluna. Os generais Carlos Alberto dos Santos Cruz e Floriano Peixoto receberam o bilhete azul, como se diz no jargão militar, por manifestarem suas diferenças e possuírem opiniões que não eram mero reflexo das convicções presidenciais ou de suas redes sociais.
Os dois novos ministros, Luiz Ramos e Jorge Antonio, são amigos do presidente, frequentam sua casa, conhecem seus filhos. Ambos são reconhecidos pelo trabalho e carreira, mas o que importa é que darão match a todas as ideias do presidente.
Efeito desse fenômeno narcisista é a repulsa à política. Nos anos 60, o autor inglês Bernard Crick publicou “Em Defesa da Política”. Nele, dizia: “A política é uma forma de governar nas sociedades divididas”. Bolsonaro foi eleito pela divisão e agora faz dela um modo de governar. Afasta antigos aliados, hostiliza o Congresso.
As instituições cobram seu preço e, a cada volta para si mesmo, a governabilidade se decompõe. “Destruir a política é destruir aquilo que ordena o pluralismo e a variedade da sociedade civilizada”, escreveu Crick.
Folha