Os arapongas de bordel (por Guilherme Fiúza) – Heron Cid
Bastidores

Os arapongas de bordel (por Guilherme Fiúza)

18 de junho de 2019 às 13h00 Por Heron Cid
Glen Greenwald, autor de reportagens que publicaram mensagens vazadas de Moro e Dallagnol
Pegaram Sergio Moro. Ele foi flagrado sentenciando o ladrão mais querido do país — e isso não se faz. O pessoal da mídia transformista — a militância fantasiada de jornalismo — não gostou do que o principal juiz da Lava Jato falava em privado durante o processo que condenou o bom ladrão. Jean Wyllys (por acaso amigo dos arapongas em questão) já tinha reclamado que a voz de Moro é fina. Agora veio a queixa sobre os modos para se referir ao ladrão amigo.

Ok, cada um na sua — e se a sua é a militância delinquente com maquiagem de jornalismo investigativo, você tem mesmo que caçar quem defende a lei. Ainda assim, se coloque no lugar de Sergio Moro por um instante.

Ele estava liderando a força tarefa que capturou a quadrilha mais simpática e voraz da história. Já tem gente até dizendo que ele não poderia ter liderado Lava Jato nenhuma, que tinha que ficar lá no gabinete dele canetando os processos e ponto. Normal: no mundo encantado dos legalistas de almanaque, a justiça se faz praticamente com uma varinha de condão. O juiz é um burocrata que não precisa nem lavar as mãos no fim do expediente, tal o seu isolamento virtuoso.

Voltando ao mundo real e sua desobediência aos almanaques, Moro tinha entendido que o filho do Brasil — uma figura a caminho da canonização em vida — aproveitara sua santificação na Terra para se associar a santidades menos conhecidas que ele, mas igualmente puras — que viviam no altar das empreiteiras. Tudo em nome da amizade e da camaradagem, num clima tão fraterno e altruísta que ali a gula nem era pecado. Sendo assim, saíram devorando tudo (sem culpa).

Os legalistas sabem admirar um bom drible marginal nas instituições   

Sergio Moro foi o estraga prazeres que apareceu para atrapalhar essa história bonita. O final terrível de tudo isso — se é que se pode falar em final — foi a condenação e prisão inédita no país de empreiteiros bilionários que só queriam fazer o bem, junto com ídolos do PT que tomaram o dinheiro do povo só para impedir que ele gastasse tudo com cachaça.

Agora imagine a cena: Moro decreta a prisão de Lula e ele simplesmente não obedece. Se tranca num sindicato cercado de fiéis transtornados esbofeteando jornalistas e dizendo que o grande líder só sairia dali sobre seus cadáveres. A companheira Gleisi já tinha avisado que ia morrer gente se ousassem tentar prender Lula.

Vários desses intelectuais de almanaque — os que dizem que juiz bom é juiz de gabinete — ali já diziam que Moro tinha dado vexame: sua sentença precipitada e inócua iria para a lata de lixo da história.

Os legalistas sabem admirar um bom drible marginal nas instituições.

Além deles, na torcida — e na fé — pelo baile de Lula na Justiça e na lei, estavam celebridades, famosas entidades de classe, parte da imprensa internacional, instituições multilaterais de direitos humanos (sic), etc. E Moro jogando xadrez com essa tsunami “progressista” em sentido contrário, fora os insultos de quem estava a favor dele mas já o chamava de arregão nas redes sociais. “Manda a polícia logo!” “Morreu na praia!” etc.

Ao contrário do que fingem querer os legalistas de almanaque, nesse momento Sergio Moro não estava sozinho em seu gabinete esperando a justiça se fazer pela providência divina. Certamente estava conversando não só com procuradores, mas com delegados, agentes, desembargadores e outros. Estava fazendo o que não estava em nenhum script e contrariava todos os convites das circunstâncias: evitar um banho de sangue e desmontar um teatro que salvaria um criminoso.

Se os arapongas fantasiados de jornalistas capturarem alguma mensagem telefônica desse famoso 7 de abril de 2018, informarão, depois daquela edição caprichada, que Moro estava combinando com seus comparsas como capturar um inocente perseguido por ele.

Como diria Cazuza: transformam um país inteiro num puteiro pra ganhar mais dinheiro — e (complementamos) querem que o xerife seja a virgem.

Gazeta do Povo

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