Ora, identificados os membros da quadrilha e os mandantes da ação, simplesmente prendê-los para que sejam processados, julgados, e condenados. São criminosos. E a Justiça deve ser dura com eles, tratando-os com todo o rigor da lei. A Lava Jato foi a mais bem-sucedida operação de combate à corrupção por aqui e alhures.
Mas uma coisa é uma coisa, outra é outra. As conversas reveladas até agora entre o então juiz Moro e o procurador Daltan Dallagnol, parceiros na condução da Lava Jato, indicam para além de qualquer margem de dúvida que eles desrespeitaram, sim, o que está escrito no Código de Processo Penal e na Constituição.
Procurador investiga e oferece denúncia. Juiz aceita ou não a denúncia, e quando aceita deve julgar com isenção. Moro foi tudo menos isento. Forneceu pistas para que Dallagnol investigasse, orientou muitas de suas ações, e até adiantou decisões que tomaria mais tarde. Não procedeu assim com a outra parte – a defesa.
Isso basta para que se conclua que ele privilegiou um lado em detrimento do outro, pelo menos no processo do tríplex do Guarujá que acabou com a condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva por lavagem de dinheiro e corrupção passiva. É por isso que ele está preso. Foi por isso que não pôde disputar as últimas eleições.
Caberia a tribunais superiores examinarem a conduta de Moro para decidir se a condenação deveria ou não ser anulada. Mas uma eventual anulação criaria o seguinte e grave problema: foi legítima uma eleição onde o candidato que liderou quase até o fim as pesquisas de intenção de voto acabou impedido de disputá-la?
Se Moro cometeu algum crime agindo como agiu, foi um crime perfeito. Por ele não será julgado. Mas por ele também jamais será esquecido.
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