Uma banda do PT acreditava que a campanha Lula Livre mobilizaria multidões. Isso não aconteceu e a libertação de “Nosso Guia” depende do Judiciário. Só os magistrados sabem como lidarão com o reconhecimento, pelo Ministério Público, de que ele tem direito ao regime semiaberto. A onipotência da toga está construindo o pedestal da vitimização do ex-presidente.
Deixando-se de lado questões como a propriedade do apartamento do Guarujá e do sítio de Atibaia, a cegueira da Justiça varreu para baixo do tapete pelo menos quatro casos em que os juízes, como Maradona, recorreram à “mão de Deus” para ajeitar a bola.
O repórter Walter Nunes revelou que, em 2016, o juiz Sergio Moro mandou interceptar os telefones do escritório dos advogados de Lula, e disso resultaram relatórios sobre pelo menos 14 horas de conversas. Gravar advogados é crime. Moro justificou-se informando que não sabia que o número grampeado era dos advogados, pois supunha que fosse de uma empresa de palestras. Vá lá, mas a Polícia Federal diz que o grampo foi colocado porque suspeitava-se de um dos advogados do escritório, talvez metido com crimes. As duas versões não batem.
Um ano antes, Moro divulgou impropriamente o grampo de uma conversa de Lula com a então presidente Dilma Rousseff. Sua conduta foi condenada pelo ministro Teori Zavascki, do STF, e ele justificou-se com um pedido de “escusas”. Acrescentou que “jamais foi a intenção desse julgador (…) provocar polêmicas, conflitos ou provocar constrangimentos”. Acreditou quem quis.
No ano passado, no fragor da campanha eleitoral, Moro divulgou um anexo de conteúdo inconclusivo e jamais investigado da delação premiada do ex-ministro Antonio Palocci à Polícia Federal.
A esses momentos em que a “Mão de Deus” ajudou Moro, some-se a sentença na qual a juíza Gabriela Hardt condenou Lula no caso do sítio de Atibaia copiando e colando um texto que se referia a um “apartamento”. A doutora justificou-se dizendo que a prática é comum. Pode ser, mas quem copia e cola um texto alheio fica na obrigação de lê-lo antes de assiná-lo. Isso ela não fez.
Sempre haverá quem diga que esses cacos são detalhes menos relevantes diante do tamanho do serviço que a Lava-Jato prestou ao país. Afinal, minutos depois de marcar 1×0 contra a Inglaterra, Maradona fez um dos maiores gols da História do futebol, atravessando todo o campo dos ingleses. Mesmo assim, o bom futebol não precisa de gols marcados com a mão, nem com a ajuda de Deus.
O Globo