O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, não gosta de contestação. Ao ser vaiado ontem no Senado, ele alegou outro compromisso e se mandou. Saiu sob gritos de “fujão”, sem ouvir o que parlamentares e ambientalistas tinham a dizer.
Foi uma pena, porque os oradores produziram um bom retrato da sua gestão. “Vivemos tempos de obscurantismo e negacionismo, que fazem algumas das mais altas autoridades do governo desmontarem deliberadamente um legado de 30 anos de governança ambiental no Brasil”, resumiu o biólogo Carlos Rittl, secretário-executivo do Observatório do Clima.
Ele disse que as ações de fiscalização na Amazônia caíram em 70% de janeiro a abril na comparação com o ano passado. “O Brasil fica exposto quando seu governo assume uma posição de agressor do meio ambiente e nos torna um pária climático global”, alertou.
O ex-ministro José Carlos Carvalho, que ocupou a cadeira de Salles no fim do governo FH, protestou contra o “aniquilamento” do Conselho Nacional do Meio Ambiente. Na semana passada, um decreto do presidente Jair Bolsonaro reduziu a participação da sociedade civil de 22 para quatro cadeiras. “Esta é a mais eminente expressão da desconstrução da política ambiental brasileira”, afirmou.
O gerente de políticas públicas da WWF, Michel Santos, disse que o setor vive “uma conjuntura de retrocessos”. Ele lembrou que o governo quer afrouxar o Código Florestal e eliminar unidades de conservação, como a Estação Ecológica de Tamoios. “O meio ambiente não é bandeira de um ou outro partido político e, sim, de toda uma nação”, ressaltou.
Na abertura da sessão, Salles disse que as críticas à sua gestão são “absolutamente inverídicas”. “Se houve desmonte, houve antes, e não agora”, defendeu-se. O ministro foi embora sem ouvir a resposta do senador Randolfe Rodrigues, que o acusou de mentir sobre temas como o Acordo de Paris, o Código Florestal e o Fundo Amazônia. “Para comparecer, vomitar mentiras e sair fugidio, covardemente, era melhor não ter vindo”, reclamou o senador.