Depois de 28 anos no Congresso, Jair Bolsonaro conseguiu vender a imagem de que não era um político profissional. Agora que se instalou no Planalto, ele tenta convencer a plateia de que tem o pior emprego do mundo.
Em entrevista à “Veja”, o presidente descreveu o cargo como um fardo pesado. “Imaginava que ia ser difícil, mas não tão difícil assim. Essa cadeira aqui é como se fosse criptonita para o Super-Homem”, comparou. Não foi a primeira vez que ele reclamou da tarefa de governar.
Antes de completar dois meses no cargo, Bolsonaro disse se sentir “em prisão domiciliar, sem tornozeleira eletrônica”. “Viver no Alvorada é chato”, acrescentou, esnobando o palácio onde tem piscina, sala de jogos e cinema particular ao seu dispor.
Em Israel, o presidente voltou a falar em tom de desabafo. “Nós sabemos que o Netanael é passageiro, daqui a pouco muda. Eu também sou passageiro no Brasil. Graças a Deus, né? Imagina ficar o tempo todo com esse abacaxi”, disse. O tal Netanael, o premiê Benjamin Netanyahu, não opinou sobre a metáfora.
De volta a Brasília, Bolsonaro cunhou outra frase para a história. “Não nasci para ser presidente, nasci para ser militar”, disse. “Eu às vezes pergunto, olho para Deus e falo: ‘Meu Deus, o que é que eu fiz para merecer isso?’ É só problema”, queixou-se.
Na conversa com a “Veja”, o presidente carregou ainda mais no drama. “Já passei noites sem dormir, já chorei pra caramba também”, disse. Questionado sobre a razão do sofrimento, ele foi sucinto: “Angústia, né?”. Em seguida, emendou outro discurso sobre a falta de patriotismo dos políticos. Os que discordam dele, é claro.
Apesar de tanto sacrifício, Bolsonaro não parece contar os dias para deixar o poder. Pelo contrário. Na entrevista em que comparou a cadeira a um mineral radioativo, ele admitiu que pretende disputar a reeleição. Disse que só não será candidato se o Congresso aprovar “uma boa reforma política, que diminuiria o número de parlamentares para 400”.
É mais fácil o Super-Homem tomar suco de criptonita no café da manhã.