Essa foi a lógica do ameno café-da-manhã que reuniu no Alvorada, dois dias depois dos protestos de domingo, os presidentes dos poderes da República. Em torno de Jair Bolsonaro, sentaram-se os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia, um dos principais alvos dos manifestantes bolsonaristas, o do Senado, Davi Alcolumbre, e o do STF, Dias Toffoli, que também apanhou dessa turma.
Na linha do “ei, tenho uma ideia”, Toffoli propôs um pacto entre os poderes – aliás, um discurso que acalenta desde que assumiu o posto em meio a um dos maiores tiroteios internos e a um dos piores desgastes externos que a Suprema Corte já sofreu. O presidente do STF não soube explicar como o Supremo, a quem caberá dirimir dúvidas e divergências sobre propostas que vão estar no pacto, conseguirá acumular os papéis de árbitro e de parte. Mas os outros toparam – fazer o quê?
Ninguém, em sã consciência, se senta à frente do presidente da República para se recusar a fazer um pacto com ele em torno de reformas e medidas de combate ao crime. São aquelas generalidades com as quais quase todo mundo concorda de cara, e depois discorda na hora de aprovar de verdade. Estarão escritas no documento que os chefes dos poderes combinaram de assinar no dia 10 de junho para formalizar seu pacto – que, muito provavelmente, não vai fazer diferença alguma na ordem geral das coisas.
Antes mesmo do pacto, Rodrigo Maia, que é a favor da reforma da Previdência e, acima de tudo, representa no parlamento os setores que a defendem, decidiu tentar antecipar seu cronograma e pedir ao relator Samuel Moreira (PSDB-SP) que apresente seu parecer uma semana antes. Trata-se de uma tentativa e, sobretudo, de um discurso para a platéia do establishment, que anda muito nervosa.
Há sérias dúvidas de que Maia e o Planalto consigam os votos suficientes para aprovar a PEC ainda neste semestre, com pacto ou sem pacto. Seu companheiro do Senado, Davi Alcolumbre, tem pouco a perder ou ganhar com esse hipotético acordo. Fez o dever de casa direitinho ao barrar a mudança de endereço do Coaf na votação da medida provisória 870 na terça-feira. Ganhou espaço, inclusive, como articulador governista, já que o PSL, partido de Bolsonaro, bateu o pé quase até o último momento pela mudança – só evitada quando Bolsonaro e o ministro da Justiça, Sergio Moro, deram o dito pelo não dito por escrito, em carta, mudando de opinião sobre o destino do Coaf.
Dar o dito pelo não dito nunca foi tão freqüente no Sanatório Planalto. A ponto de, durante a votação da MP da reforma administrativa, o senador Angelo Coronel (PSD-BA) ter cunhado a expressão governo pingue-pongue, “porque de manhã é pingue, de tarde é pongue”. Assim como no domingo é pancadaria, e na segunda é agrado.
Nos próximos dias, é provável que o pacto entre os poderes vá avançar e refluir com a velocidade de uma mola, e ninguém tem ideia de como estará em 10 de junho. Nas circunstâncias atuais, porém, não passa de conversa de maluco.