Ricardo Coutinho é um animal político. A política para ele está como o oxigênio para a vida. Por isso, seria difícil esperar do socialista um período de hibernação, de reclusão e silêncio, como geralmente fazem chefes de Estado pós-governos.
É que, por princípio republicano, recomenda-se a tradicional e respeitosa trégua quando o sucessor é um adversário. Quando a sucessão pare um aliado, aí o esforço é dobrado para evitar que qualquer movimento ganhe ares de descortesia e provoque ofuscamento e constrangimento contra quem assumiu e até a interpretação de ciúme e desconforto da parte do antecessor.
Jaques Wagner, na Bahia, adotou a diplomacia com Ruy Costa. Quatro anos depois, voltou senador. Até o temperamental Cid Gomes (PDT), idem, com Camilo Santana, de outro partido, o PT.
Uma etiqueta que pode até exigir certo esforço em situações mais agudas. No caso da Paraíba, por enquanto não é possível precisar qual fato exato ou insatisfação específica impulsionou o ex-governador Ricardo Coutinho a romper essa regra de convivência com aquele que fora pessoalmente escolhido para sequenciar seu “projeto”. E em tão curto espaço de tempo.
O que se sabe, e agora pela boca dele próprio e não mais por informação de bastidores ou leitura jornalística, como registrada aqui outrora, é da latente insatisfação de Coutinho para com a condução política e administrativa de João Azevêdo, aquele a quem, na campanha, Ricardo imputava, por vezes, qualidades e atributos superiores a si mesmo.
Antes, a crítica era só do PSB e interna. A leitura pessoal do ex-governador foi expressa publicamente e pela primeira vez durante longa entrevista (aproximadamente três horas), na Câmara Municipal de Cajazeiras, transmitida para uma cadeia (articulada pelo próprio Ricardo) de emissoras da cidade. E do pronunciamento pode se extrair, sem exageros, o sabor acre de pontos principais, customizado com perícia e esmero nos ingredientes selecionados, dignas de um ás da política.
Coutinho empreende notório esforço para convencer o público de ter feito “pouquíssimas (!?) indicações” ao governo. Até onde se sabe, João Azevêdo “printou” o primeiro escalão anterior. A configuração só mudou depois do avanço da Operação Calvário com as saídas de Livânia Farias, Waldson Souza, Gilberto Carneiro e Amanda Araújo. Residiria aí a grande queixa: a saída do quarteto eminentemente ricardista e o fato de os substitutos não terem passado pelo crivo do ex-governador?
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