Bem antes de eleito, Luís Inácio Lula da Silva Lula afirmou, em depoimento gravado em 1997, que o Congresso funciona como “um balcão de negócio”, onde o presidente da República, a cada votação, é obrigado a chamar os “Judas” para “saber quantas moedas as pessoas precisam para votar”.
Jair Bolsonaro foi eleito com a proposta de “mudar o sistema”, e não alimentá-lo, como costumam lembrar os seus seguidores mais ortodoxos. Essa seria a justificativa para a total falta de ambiência do governo com o Congresso onde o então deputado federal militou por três décadas.
Nesse ponto, comportamento do presidente oscila, como quase em tudo.
Cospe agora no Centrão, formado por muitos partidos que torceram e estiveram – direta ou indiretamente – com ele no segundo turno. Esse grupo queria qualquer coisa, menos Haddad e a volta do PT, a quem ajudou derrubar. O voto em Bolsonaro foi por gravidade.
Já eleito, o presidente casou com o DEM, partido do Centrão a quem deu três ministérios numa Esplanada reduzida, e ajudou a legenda a comandar Câmara e Senado, de uma vez.
Bolsonaro ora despreza o Parlamento, quando estimula o movimento do dia 26 contra partidos e parlamentares desse espectro, ora se aproxima, como fez ontem ao deflagrar reuniões com deputados e senadores, começando pela bancada do Nordeste, num gesto um tanto mais consequente.
Quando chegou ao poder, Lula soube muito bem transitar no “balcão de negócios”. O tempo mostrou que a conversão dos que ele chamava de “Judas” custou muitas “moedas”. A bravata não se sustentou na realidade.
E, definitivamente, não será com bravatas que Bolsonaro governará. Eis a realidade que o presidente começa a ter que enfrentar, ouvindo e dialogando com os parlamentares, entre Judas e bons samaritanos.
Espera-se, entretanto, que ele tenha capacidade e tino de estabelecer uma relação civilizada e estável, com argumento e convencimento. Sem precisar sacar mais moedas, trair e repetir a história.