Já reparou numa coisa desses novos tempos? Quando alvo de uma investigação do Judiciário ou simplesmente objeto de crítica, quase todo político ou grupo político tem uma mesma saída. Eleger a imprensa – veiculadora dos fatos – como algoz.
Virou moda responder notícia ou opinião com a desqualificação da mídia.
A tática não guarda nenhum pudor ideológico.
Basta um exemplo recentíssimo. Quando acompanhou o Petrolão, era pichada de estar a serviço das elites dominantes do País. Agora, para os bolsonaristas mais ortodoxos, a cobertura crítica dos deslizes do governo Bolsonaro e do Caso Queiroz é coisa de redações cheias de “esquerdistas”.
Ou uma coisa ou outra, meu caro. As duas, ao mesmo tempo, se conflitam e não guardam qualquer poeira de coerência prática.
A estratégia em voga tem um propósito: confundir o público e manter acesas as chamas das respectivas militâncias. E, claro, enfraquecer a instituição que vacina a plateia da doença da desinformação.
Na Paraíba, a cena se repete. Situações recentes em que personagens de opostas matizes partidárias empreendem esforços para constranger e intimidar profissionais e veículos, seja no confronto pessoal, nas redes sociais e até tribunas.
No campo nacional e no terreno estadual, a expressão “mentiras da imprensa” virou a frase pronta de investigados ou suspeitos para desviar a atenção sobre fatos de investigação judicial e apuração de suspeitas de crimes.
O exercício do jornalismo profissional nunca foi tão desafiado e desafiador. Esse momento está a exigir do segmento, mais do que nunca, serenidade, equilíbrio e profissionalismo. Mas o maior remédio é fazer jornalismo.
E não existe jornalismo de oposição nem de governo. Bom ou mau. Existe jornalismo. Tudo que se desvia disso é outra coisa.
Esse quadro mereceu lúcida nota, ontem, da Associação Paraibana de Imprensa, que não fulanizou os episódios, mas tratou o tema como merece: no macro.
Tem um ponto interessante nas críticas e rajadas contra a mídia. A motivação é sempre a mesma (contrariedade) e a providência (desmerecer) também.
E nesse ponto, os que se dizem opostos, em tese, ficam bem iguais, na prática.