O presidente Jair Bolsonaro abriu o jogo. “Eu fiz um compromisso com ele, porque ele abriu mão de 22 anos de magistratura”, revelou, no domingo. Ele era Sergio Moro, o juiz que saiu da Lava-Jato para entrar no governo. O compromisso era indicá-lo ao Supremo Tribunal Federal.
“Eu falei: ‘A primeira vaga que tiver lá está à sua disposição’. A primeira vaga que tiver, eu tenho esse compromisso com o Moro”, contou Bolsonaro, em entrevista à Rádio Bandeirantes.
Na segunda-feira, o ministro Marco Aurélio Mello ligou os pontos. “Isso soa muito mal para o ministro da Justiça, como se ele tivesse feito uma troca”, afirmou, à revista “Época”.
Com todo o respeito ao ministro, não era preciso ser um Sherlock para chegar à mesma conclusão. Falta esclarecer os termos do acordo. Quando foi que Moro e Bolsonaro fecharam negócio? O que o juiz ofereceu ao político para garantir o seguro-toga?
A primeira pergunta já foi respondida pelo vice-presidente Hamilton Mourão. Três dias depois da eleição, ele foi questionado sobre o momento do convite a Moro. “Isso já faz tempo. Durante a campanha foi feito um contato”, respondeu, sem cerimônia.
A segunda pergunta permanece em aberto. No entanto, é impossível não lembrar de decisões do então magistrado que facilitaram a ascensão de Bolsonaro.
Moro condenou Lula, que foi preso quando liderava a corrida presidencial. Três meses depois, interrompeu as férias para orientar a Polícia Federal a descumprir uma ordem de soltura do ex-presidente.
Na reta final da campanha, o então juiz vazou um trecho da delação de Antonio Palocci. Ele guardava as acusações na gaveta havia quatro meses. Resolveu divulgá-las em 1º de outubro, a seis dias do primeiro turno.
Em todos os casos, o atual ministro da Justiça negou ter agido politicamente. Agora o discurso começa a ser contestado até por velhos admiradores.
“O leitor sabe que sempre apoiei a Operação Lava-Jato e que chamei Sergio Moro de ‘samurai ronin’, numa alusão à independência política que, acreditava eu, balizava a sua conduta. Pois bem, quero reconhecer o erro que cometi”, escreveu o cineasta José Padilha, em artigo na “Folha de S.Paulo”.
Elementar, Watson.