O presidente Jair Bolsonaro e seus ideólogos parecem naturalmente propensos à auto-implosão. A crise com os militares é o epicentro dessa demonstração.
São raros os indícios de unidade de pensamento e ação.
Um governo, claro, não é feito só de ideias semelhantes, mas para ter êxito se faz necessário que as diferenças encontrem um eixo de convergência.
A disputa interna do grupo mais próximo – familiar e ideologicamente – ao presidente atira exatamente no pilar do Palácio que mantém respiros de credibilidade ao governo; os militares (quem diria?!).
De tanta queimação e choques internos, Bolsonaro já considera a possibilidade de demitir o general Santos Cruz, da Secretaria de Governo, que detém controle sobre a comunicação, área disputada por Carlos Bolsonaro, a eminência parda da república bolsonarista.
Os ataques aos militares tornaram-se praxe. Carlos pratica essa arte quase como hobby. Olavo de Carvalho, o pensador-mor do bolsonarismo, idem.
General Hamilton Mourão, que virou a voz da ponderação do inflamável governo, é alvo permanente. Ele é um dos que comete o grave crime de pensar um pouco diferente e de contrabalancear o fundamentalismo majoritário.
Como não pode ser removido pela BIC de Bolsonaro, resta-lhe o tratamento de estorvo e a desqualificação pública.
Afeitos à princípios bíblicos, Bolsonaro e Companhia não podem esquecer de um sábio conselho registrado no Livro de Mateus, capítulo 12, verso 25.
“Todo o reino dividido contra si mesmo é devastado; e toda a cidade, ou casa, dividida contra si mesma não subsistirá”.