O presidente Bolsonaro furou o balão de Moro. Sobra agora apenas aquele barulho agudo, do ar escapando fino, desinflando aos poucos a figura do superministro da Justiça.
A indicação de Moro para a próxima vaga no STF (salvo o acaso, que só ocorrerá daqui a 18 meses, com a aposentadoria de Celso de Mello), submete-o desde já ao ritual do beija-mão.
De presidenciável em 2022, passa a refém da política miúda. A regra explica. Cabe ao Senado, em sessão secreta e por 41 votos, aprovar o indicado do presidente ao Supremo.
No passado, outros ministros da Justiça foram nomeados para o STF e todos os candidatos se submetem ao périplo dos gabinetes. Mas nunca com tanta antecedência. No jargão da velha política, exposição prematura leva o nome de fritura.
Moro se referiu ao STF como uma “loteria“. Quando se quer muito algo, o pedágio imposto pelo Congresso é maior. Para tirar seu bilhete premiado, o ministro vai insistir na aprovação do projeto anticrime que afetará o status quo político?
Detentor de notável saber jurídico, reputação ilibada, Moro possui credenciais para ser ministro do STF. Mas essa “promoção” está atrelada a um projeto chancelado pelas urnas de combate à criminalidade que fica comprometido pelo calendário encurtado definido por Bolsonaro. Moro terá no máximo dois anos para apresentar resultados.
Se de fato trocou Curitiba apenas por uma vaga no Supremo, Moro agiu como um deputado do centrão: hipotecou sua imagem para lustrar um governo em troca de uma sinecura. O discurso era só discurso.
Dezoito meses é tempo demais na política. É uma eternidade num governo Bolsonaro. Sem um cartão de visitas para apresentar, talvez sua imagem —e a de Bolsonaro— não esteja tão imantada de prestígio popular a ponto de tornar sua aprovação no Senado algo fácil. Ao se mexer tão cedo, colocou-se em impedimento. E juiz uma vez impedido, sempre impedido.