Wilson Witzel queria ser Chuck Norris. Como não foi descoberto por Hollywood, candidatou-se ao governo do Rio. Eleito, deixou a administração de lado para brincar de filme de ação.
No sábado, o ex-juiz mobilizou fuzis e helicópteros para bancar o xerife. Policiais civis e militares foram recrutados como figurantes. Um assessor usou o celular para registrar a encenação.
Em traje esporte, Witzel finge comandar uma operação contra o crime em Angra dos Reis. “Acabou a bagunça. Vamos colocar ordem na casa”, anuncia, com cara de mau e olhar fixo na câmera.
Na sequência, ele embarca num “caveirão aéreo” com atiradores munidos de fuzis. O vídeo termina com as armas apontadas para um morro, ao som de rajadas de tiros. Tudo acontece em um minuto, tempo ideal para o compartilhamento nas redes sociais.
Ninguém foi preso, e nenhuma arma foi apreendida. Cumprida a missão caça-likes, o governador foi repousar no Hotel Fasano, com diárias a partir de R$ 1.600. Ele disse ter aceitado a hospedagem como “cortesia”. Alertado de que a prática viola o código de conduta do Estado, mudou a versão.
Na semana passada, Witzel se internou para fazer exames no hospital mais caro do Rio, depois de prometer que só se trataria em unidades públicas. O episódio de Angra é mais grave porque o governador montou um teatro de violência e pôs inocentes em risco para se promover. Dois dias depois, outra operação com helicópteros deixou oito mortos na Maré.
Nos primeiros três meses do governo Witzel, a polícia matou 434 pessoas — quase cinco por dia, um recorde no Estado. O Ministério Público e a OAB estudam medidas para tentar conter o faroeste.
“A política do bangue-bangue não resolve os problemas da segurança”, critica o presidente regional da OAB, Luciano Bandeira. Ele afirma que o uso de helicópteros em operações policiais é proibido por um decreto estadual de 1994. “Em nenhuma hipótese o helicóptero poderá ser usado em confronto armado direto”, diz o texto, ainda em vigor.
O Globo