A democracia fez mal à direita no Brasil — pelo menos a que está no poder. Em tempos de ditadura, ela era bem mais inteligente do que a de agora. Quem hoje pode ser comparado a Carlos Lacerda em cultura, brilho e raciocínio? Ou a Delfim Netto, que tem autoridade para criticar o que chama com razão de “direita incultural”? Mesmo não gostando dele, não se pode lhe negar o senso crítico e o humor sagaz. Já imaginaram em 1964 o ideólogo do presidente xingar de “um merda” um general importante, como acaba de fazer Olavo de Carvalho com Santos Cruz? Tudo bem, ele tem um “vazio existencial”, como diz outro general, Villas Bôas, ex-chefe das Forças Armadas, reagindo à agressão: “Ele derrama seus ataques aos militares das FFAA, demonstrando falta de princípios básicos de educação, de respeito e de um mínimo de humildade e modéstia.” Apesar disso, Olavo, líder da direita, manda e desmanda no governo.
O pior é que não há luz no fim do túnel. Nunca pensei, por exemplo, que fosse sentir saudades do ministro da Educação anterior. Ele fazia rir, o atual faz mal à cultura, encabeçando uma cruzada contra as universidades. Se tiver que escolher entre um veterinário, um sociólogo e um filósofo, vai preferir o primeiro. Um internauta ironizou acusando-o de estar legislando em causa própria.
Abraham Weintraub só faz rir involuntariamente, como quando protagonizou uma cena inédita: acho que pela primeira vez um ministro da Educação exibiu parte do colo nu para provar o que dizia. O espetáculo ocorreu quando ele expôs em seu Twitter um vídeo no qual explica as notas baixas (até zero) do boletim escolar vazado e viralizado nas redes sociais. O registro é dele como aluno de Ciências Econômicas na USP. “Esse primeiro ano foi um inferno”, alega, citando várias adversidades, inclusive um “acidente horroroso que me obrigou a colocar parafuso no braço”. Para provar, o ministro baixou a camisa e apontou para o ombro direito. “Está aqui a cicatriz, 15 centímetros”, para não haver dúvida.
Como que desconfiando da própria palavra, ele provou mostrando.
O Globo