De todos os desmontes que o governo Bolsonaro vem promovendo na área social e cultural, o que atinge a Educação será o que maiores danos trará ao futuro do país. O que se pergunta hoje, nos meios acadêmicos, nos organismos e instituições voltados para a reflexão sobre o ensino e entre especialistas, é quantos anos serão necessários para superar o retrocesso e voltar à situação anterior – que já estava longe de ser a ideal. A resposta é um grande vazio. Destruir é fácil – faz-se num dia, com uma canetada. Construir, sim, é que são elas.
Vai ficando claro que a substituição de Vélez Rodriguez por Abraham Weintraub no MEC foi uma troca de seis por meia dúzia, que não alterou as prioridades do bolsonarismo no campo do ensino, voltadas sobretudo ao combate ideológico e à doutrinação conservadora. Só tem uma diferença, já assinalada pelo próprio Bolsonaro a interlocutores num evento social outro dia: Vélez tinha ideias tão “boas” quanto Weintraub, só que este último tem mais capacidade para executá-las. Então tá. Como essas ideias pouco tem a ver com eles – assim como as do presidente – continuam paralisados os principais programas e ações da pasta, relativos à missão básica de ampliar e melhorar o ensino para um número máximo possível de brasileiros.
O que se vê, a cada dia, é um novo absurdo substituindo o anterior, numa sucessão no estilo trem-fantasma. O de ontem anunciou o corte de 30% dos recursos de todas as universidades federais, sucedendo ao de anteontem, que destinou, nas palavras do próprio ministro, esse corte a universidades que não estivessem apresentando o desempenho acadêmico esperado e estiverem promovendo “balbúrdia”. Três foram inicialmente enquadradas: UnB, UFF e UFBA – três das maiores instituições públicas de ensino do país, que não estão nos últimos lugares dos rankings de classificação da área, e certamente estão sendo punidas pela “balbúrda”.
Aliás, o que vem a ser balbúrdia quando o conceito é relacionado a universidades? Pelo que se depreende das palavras do ministro, algo relacionado a eventos políticos, manifestações, “festas inadequadas”. “gente pelada e sem-terras dentro do campus”- mais ou menos o que se costuma fazer nas universidades de países democráticos, onde vigora a liberdade política e de expressão.
Esse último capítulo veio suceder ao penúltimo, no qual o presidente da República divulgou vídeo de uma aluna de cursinho – que, descobriu-se mais tarde, era militante do PSL – que gravou uma aula em que a professora supostamente defendia ideias de esquerda.
E o antepenúltimo foi o anúncio presidencial de que vai reduzir recursos para cursos de humanidades, como Sociologia e Filosofia – o que nos joga numa idade das trevas educacional pela qual nunca passamos no Brasil. Não sabemos o que, mas certamente virão mais atitudes medievais.
De outro lado, começamos a perceber o que não virá tão cedo: mais crianças na escola, ensino integral para todos, acesso dos pobres à universidade, melhoria da qualidade do ensino, valorização do professor. Tudo isso parece que vai ficar para uma outra era, o que é muito, muito ruim mesmo. O pior de tudo, porém, é a sensação de que a Educação ocupa apenas parte de um castelo medieval muito maior, cercado de fossos que estão sendo escavados para separar as pessoas segundo seus grupos políticos e ideológicos. O perigo é que muita gente, quando se der conta, estará prisioneira dentro daquelas muralhas intransponíveis, sem chance de fuga.
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