Na Ucrânia, um comediante aproveitou a irritação geral com os políticos para chegar ao poder. Volodymyr Zelenskiy fez sucesso na TV ao interpretar um professor que se revolta contra o sistema e vira presidente por acaso. A série ficou tão popular que ele decidiu se candidatar de verdade.
Zelenskiy evitou os palanques, fugiu da imprensa e faltou a quase todos os debates. Preferiu fazer campanha nas redes sociais, onde protagonizou cenas inusitadas. Num vídeo recente, pediu votos enquanto fazia flexões numa barra. Em outro, apareceu com um nariz de palhaço.
O humorista foi criticado por não ter experiência administrativa e apresentar poucas propostas concretas. “Não tem promessa, não tem decepção”, respondeu, num slogan engraçadinho. Os ucranianos gostaram da piada. Zelenskiy virou favorito e foi eleito no domingo, com mais de 70% dos votos.
Num país ao sul do Equador, outro outsider apostou no marketing do homem comum. Ele capitalizou a indignação com os políticos, apesar de acumular sete mandatos parlamentares. Também escapou dos debates e repetiu a mesma resposta para todo tipo de pergunta: “Tem que mudar tudo isso daí, tá ok?”.
A comédia começou depois da eleição. Um guru paranoico e três irmãos tuiteiros se encarregaram de distrair a plateia. No elenco de apoio, despontaram um diplomata louco, uma pastora histriônica, deputados youtubers e um ator pornô.
No feriado da Páscoa, os núcleos da série voltaram a se engalfinhar pela internet. O guru debochou dos generais que despacham no palácio: “Só cabelo pintado e voz empostada”. Acrescentou que o regime exaltado na propaganda oficial “entregou o país ao comunismo”. O pitbull do governo se empolgou com a performance e divulgou o vídeo nas redes do pai.
Um dos alvos das piadas não achou tanta graça. Sugeriu que o guru é um charlatão e lembrou seu passado como astrólogo. Magoado, o herdeiro do presidente anunciou “uma nova fase”: “Quem sou eu no meio deste monte de gente estrelada?”.