Primeira missa na capelinha da Economia (por Mario Rosa) – Heron Cid
Bastidores

Primeira missa na capelinha da Economia (por Mario Rosa)

22 de abril de 2019 às 17h00 Por Heron Cid
Paulo Guedes estuda proposta que transfere de quem ganha muito para quem nada tem durante crise do coronavírus - Poder360 Ideias/Foto: Sérgio Lima/PODER 360

Meu amado Senhor, meu amado Mestre, divino professor Friedman,

Dirijo meus pensamentos para os celestiais telões das bolsas de Nova York, de Londres e para os altares pios da sabedoria divina de Chicago. Em comunhão com as falanges dos espíritos do Fundo Monetário, do Banco Mundial e de toda a ortodoxia econômica que pela teoria dos jogos é absolutamente consistente com a religião e, portanto, pode ter sido obra de Deus (embora a oposição vá dizer o contrário, o que empiricamente também é plausível, mas em minha atual posição não me cabe assumir isso publicamente), enfim, Mestre, venho lhe pedir que não me falte na maior aposta de minha vida. Não me deixe virar miqueiro. Livrai-me do suplício de catar lata, Senhor!

Fui lá no Vaticano, na Meca, quer dizer, Nova York, e o cara do uniforme quase põe fogo no circo todo. Com diesel! Bombeiro a essa altura do pregão? É uma motumbada do destino…

De trader para trader, Senhor, assumi uma posição num governo com uma proposta que, se der tudo certo, é como se estivesse todo mundo vendido e só eu comprado. Quer dizer, se a minha posição prevalecer, vou quebrar essa bolsa chamada História e fazer o que ninguém fez! Vou dar uma porrada.

É por isso que preciso aprovar essa reforma da previdência, Senhor. Porque vai ser a jogada mais arriscada que trader nenhum jamais fez desde os fenícios. E, bom, dizem que também irá ajudar o país e as futuras gerações, organizar o equilíbrio fiscal, destravar a economia, criar empregos. Mas o que me move mesmo é o meu instinto animal. E a minha fé inabalável nos dogmas que me ensinastes.

Eu sei, eu sei, o Roberto Campos aqui, o Delfim Netto aqui não deu aquela sorte de cavalgar um alazão como os do passado. Mas…fazer o quê? Era o que tinha. E se o senhor pensar bem, um general-presidente um dia também já foi um tenente. Então, o meu tenente-presidente (que ao ser reformado pela Previdência que eu quero destruir agora foi promovido duas patentes acima para capitão) tem todas as credenciais dos chefes do Campos e do Delfim. A sorte deles é que naquela época não tinha Twitter e não vou nem falar dos filhos. Porque… não quero derrubar a bolsa nem explodir o dólar.

Mas, Mestre Friedman, ajude este aplicado discípulo. Tenho passado por um urso danado. Tenho andado em repartições públicas o tempo todo, tenho andado em carros oficiais que são chinfrins, tenho tomado cafés de ministérios (que são coados, Senhor!), tenho até me sujeitado a encontrar uns operadores mal educados que usam uns botons na lapela e trabalham numa espécie de grande casa de apostas que existe por aqui, chamada de Congresso Nacional.

Pois imagina que dia desses eu fui lá participar de uma espécie de road show nessa bolsa com esses operadores e um deles veio e me chamou de “tchuchuca”. O mercado parou e o pregão fechou. Uma confusão. A palestra para investidores foi suspensa imediatamente.

Enfim, senhor, estou aqui nesse cassino e já avisei que o que me move é a adrenalina. Se eu não porrar, volto pra minha vidinha de trader e vou me divertir como sempre. Posso até violinar, mas nabo eu não aceito. Tô casado com a aposta da minha vida até o fim. Por isso, Senhor, me ajude, use sua mão invisível (como a do mercado) e interceda por essa sardinha no meio de todos esses tubarões.

In God We Trust!

Poder 360

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